quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Quando os homens falam de amor #47







cromices #64: Vou manter a tradição pela metade.



Refiro-me, é claro, ao dia de hoje: o último dia do ano, o reveillon.

Comecei uma dieta especial há anos: a de cortar com as promessas, e isso inclui, especialmente, as tradicionais resoluções de ano novo.

Não sou boa com promessas. Acho que quando começamos uma frase com "havemos de" já é meio caminho andado para algo ficar, na melhor da hipóteses, pela metade. Pelo dito e não feito.
Porque se é algo que queremos mesmo fazer, fazemos e ponto.
Talvez não no momento imediato, porque a vida, infelizmente, não se rege só de vontades. Mas, haver vontade é iniciar o trilho para a realização de algo, não ficar apenas pelas frases soltas.

Também eu, no passado, me dedicava neste dia do ano a reflectir sobre as tais resoluções, o que faria de diferente no novo ano, a elaborar a lista de acções, grandes e pequenas, mais ou menos mundanas, que fariam de mim, na teoria, uma "melhor" pessoa.

No entanto, nunca deixei de fumar, nem nunca me cheguei a inscrever num ginásio ou qualquer actividade desportiva, deixei de ter mau feitio ou atingi outro qualquer objectivo por efeito de uma dessas listas.
Pelo contrário. Concluí que esta tradição é um subproduto de uma qualquer parte do nosso cérebro que se dedica à culpa. É um exercício onde nos apontamos o dedo, debruçamo-nos sobre os aspectos mais negativos da nossa personalidade, as coisas que lá por dentro achamos que ficaram por fazer, por cumprir, em que errámos. Pois, se assumimos nesse instante querer fazer mais e melhor, de certa forma, estamos a considerar que não foi feito o suficiente e bem.

A evolução pessoal é desejada e necessária. Digo o mesmo quanto à reflexão sobre a própria natureza e as consequências dos próprios actos, mas considero-a mais benigna se feita em pequenas doses, ao longo do ano. Não há pastilha para a azia que resolva tal enfartamento se se guarda o festim para um único dia.

E, se é dia para se celebrar, para "entrar com o pé direito", abraçar o conceito de mais um ano de vida, (embora o nosso conceito de tempo seja apenas uma percepção partilhada, a vida é um óptimo motivo para se celebrar), para quê e como fazê-lo devidamente após uma sessão de auto-culpabização?!

A única tradição que mantenho é a minha transmissão de votos: desejo-vos (nos) um Bom Ano!
Que cada ano novo seja em tudo melhor que aquele que finda, para todos nós! De coração. Sem promessas.
Até para o ano!




domingo, 28 de dezembro de 2014

Vida de cão #9: Dizem que dá sorte.



O Kiko é esperto que nem um alho, disso não há dúvidas. Teimosia também não lhe falta, tanta ou mais que a esperteza.

Em relação às necessidades fisiológicas estamos, de certa forma, a perder a guerra. Estamos a ser vencidos pelo cansaço. A agarrarmo-nos à ideia que quando finalmente for possível levá-lo à rua, (já faltou mais!), poderemos começar um novo capítulo, em que finalmente andaremos por casa sem a necessidade de ligar todas as luzes e olhar atentamente para o chão a cada passo.

Sobre esta necessidade ontem aprendi uma lição valiosa.

Já é hábito, (especialmente agora que faz frio e sentimos na pele o apelo da letargia e da hibernação), instalarmo-nos os três no sofá depois do jantar a ver uma coisa qualquer no aconhego da mantas.
Também é hábito volta e meia adormecermos.

Ontem quando acordei de uma dessas providenciais sestas em família dirigi-me ao wc. Pelo caminho passei pelo escritório. Esqueci-me que umas horas antes tinhamos fechado a porta da sala, impedindo o Kiko de entrar por um bocado como castigo, e que haveria consequências desse time out algures.
Entrei pelo escritório na penumbra, apenas iluminada pela luz que vinha do corredor. Era suficiente para o que tinha de fazer.
Senti algo debaixo dos pés. Estava ensonada, e por momentos julguei que tivesse pisado um dos cinquenta brinquedos de Sua Excelência. Continuei a andar. Um, dois, três passos até o meu cérebro achar que aquela consistência não parecia nada a de um brinquedo.
Pois é. Pisei uma mega poia, sujei a sola dos chinelos e andava, no breu, a deixar pegadas no soalho.

Só vos digo, é um petisco do caraças andar a meio da noite a lavar chinelos e chão.

Faz parte. Dizem que dá sorte. Pelo tamanho da coisa é bom que não me esqueça de jogar no próximo Euromilhões. É que pisei a bosta com ambos os pés, aposto que agora nada me impedirá de me tornar milionária.


quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

A quem está desse lado



Creio já ser uma boa altura para vos deixar aqui os meus votos natalícios, ainda que de forma singela.
  Este ano recorro aos clichés. Há clichés que apenas se tornam em tal porque possuem uma essência de verdade e constância.
Sem mais delongas, Amor, Saúde e Prosperidade, são os três desejos que vos envio, como se fossem os "meus" reis magos a caminho do vosso Presépio - lar, família e coração.
Acredito que havendo estes três pilares, nada faltará na Vida. Que assim seja. No Natal e em todos os dias.




segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Vida de cão #8: das gracinhas que enchem o coração



Sentamo-nos no chão com a pernas cruzadas.

Atiramos a bola.

O kiko corre. Com velocidade e destreza apanha-a. Corre na nossa direcção, de bola na boca. Lança-se no ar para aterrar no nosso colo.

Ajeitamos-lhe a postura. Ele ali fica, enroscado, a mordiscar a bola e a fazer barulhinhos de satisfação.

O melhor de tudo é perceber que não é a bola nem o elogio a recompensa. Somos nós.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Cromices #64: Este poderia ser um post sobre moda...



Facto #1: Sou friorenta.

Facto #2: Gosto de roupa desportiva, acima de tudo confortável, tipo o que se encontra na secção de caminhadas da Decathlon.

Facto #3: Estou-me cagando para modas. Mais que defeito é feitio.


Como é que as pessoas reagem ao meu sentido fashionista?

- "Ai tão gira! Parece que vem da neve!" - isto digo pela senhora da esplanada da praia onde fomos tomar o pequeno-almoço.

E é isto.


caixa de ressonância







cromices #63: a bela música que vem dos canos!



Somos uns privilegiados: quando queremos água é só abrir a torneira.

E o gesto é tão reflexo, automático, que aposto que é coisa rara qualquer um de nós pensar no quão somos realmente uns privilegiados por isso.

Até ao momento em que falta a água, como hoje. Momentos que volta e meia têm que acontecer porque existem contratempos, manutenção que tem que ser feita, mas que nos apanham sempre de surpresa.

E dou por mim a maldizer a louça por lavar, a aguentar sem ir ao wc até ao inevitável momento em que parece que a bexiga vai rebentar, a fazer render a água que ainda existe no autoclismo, a lavar as mãos naquele fiozinho de água tão estreito que por sorte ainda escorre da torneira.

Até que de repente se ouve uma sinfonia nos canos, sinal que a água voltou. É uma melodia desarmónica, mas soa tão bem!

Vida de cão #7: o acessório mágico



Sabem aqueles sopradores que servem, lá está, para soprar quaisquer impurezas ou partículas das lentes das máquinas fotográficas?

Acreditem ou não é um acessório extremamente útil nisto do treino canino.

Dizem que quando os cães estão a ter um daqueles momentos muito chatos, em que não entendem um "não", (por exemplo se exercem demasiada força com os dentes na interacção com os humanos ou outros momentos similares), uma das técnicas aconselhadas é borrifá-los com um spray ligeiro de água no focinho.
Mas, como não queremos que ele ganhe aversão à água, (gostar de banho é fundamental), encontrámos neste acessório de fotografia a resposta.

Ainda agora mesmo, depois de uma boa sessão de brincadeira para lhe dar atenção e gastar energias, o Kiko não estava a querer compreender que tinha chegado o momento de acalmar, o que também é uma lição importante.  Então sentei-me aqui, à secretária, e lá estava ele a tentar subir-me pelas pernas, (que unhas, senhores!).
Como o "não" não estava a fazer efeito, fui buscar o soprador. Duas borrifadelas de ar foram suficientes.

Acalmou e foi para a cama fazer uma sesta. Daqui a um bocado vou recompensá-lo por ter entendido e respondido da melhor forma com ração e mais uns mimos.

O ar é obviamente inofensivo, não o magoa de forma alguma, e nem sequer o assusta. Esta deve ter sido a segunda ou terceira vez que utilizei o borrifador no Kiko, mas recomendo. Bate aos pontos, pela eficiência e grau de humanidade, outras técnicas como elevar o tom de voz, (o que é fácil de acontecer quando nós humanos começamos a ficar frustrados), e especialmente as palmadas por mais suaves que sejam.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

cromices #62: Garanto que tinha sucesso!



Espanta-me que a internet traga soluções para tudo. Existem sites e app's especializadas em tudo e mais um alho, algoritmos mágicos para encontrar o tal emprego, a cara metade, o alojamento perfeito para as férias, a peça de roupa ou o corte de cabelo que assentam mesmo bem, etc.

Espanta-me ainda mais que não tenham pensado em aplicar esta alquimia algorítmica ao universo dos condomínios e vizinhança. É que tinha futuro e ainda se habilitavam a serem nomeados para o Nobel da Paz.

Ora tenham a gentileza de acompanhar este meu raciocínio:

Uma pessoa compra ou aluga uma casa e, em termos de vizinhos, não sabe ao que vai. E isso é receita garantida para que a coisa corra mal, asseguro-vos eu.
Sublinho que em tudo se aplica a lei da reciprocidade, também quem já lá estava não sabe quem lá vem.

É claro que "mal" é um conceito demasiado vago, há todo um degradé da coisa, que vai do "mal que mal se nota", o grau 1,  ao "inferno na terra", o grau 10 (vamos manter as coisas simples).

Eu diria que me encontro, conforme os dias, numa variação entre o grau 2 - "mal menor" e, vá lá o sexto nível, que já causa arritmias ligeiras e cabelos brancos, o que dá uma média aceitável, ao nível do Cândido de Voltaire, em que ainda nos vamos conseguindo convencer que, se olharmos para a floresta e não focarmos nas árvores, somos uns sortudos. Que poderia ser bem pior, e que "vivemos no melhor dos mundos possíveis".

Basicamente são mecanismos do cérebro humano que nos fazem crer nessa linha prateada em todas as coisas. Uma espécie de ferramenta biológica para a adaptação e a sobrevivência, que impede que caiamos que nem tordos de ataque cardíaco fulminante ao mínimo contratempo.

Ora se alguém se desse ao trabalho de desenvolver o tal site ou aplicação, a coisa seria bem melhor, acredito.

Imaginem a cena: Agente imobiliário acompanha casal a visitar um apartamento. Durante a visita, falam-se não só de tipologias, acabamentos e preços mas também do perfil da vizinhança.

- Olhe, o tipo de pessoas que aqui vivem são moderamente anais, têm um elevado grau de responsabilidade, logo pagam o condomínio a tempo e horas, (saca do powerpoint com gráficos sobre pagamentos de condomínio e presenças em reuniões referentes a cada fracção). A média do grupo em termos de quociente de inteligência emocional é bastante razoável. Poderia ser mais elevada não fossem as tendências passivo-agressivas do vizinho do apartamento X, e o gosto pela cusquice do casal do Y.
É um grupo que prefere actividades diurnas, logo não se esperam farras pela noite dentro. Quando questionados sob polígrafo, não há ninguém que use saltos altos em casa, que atire beatas pela janela ou pendure a roupa a pingar.

Ah, vejo aqui as suas indicações... Estejam descansados, segundo o grupo de perguntas sobre gostos pessoais ninguém escolheu música pimba. Se vos acordarem é mais provável que seja ao som de Foo Fighters ou Mozart do que de Dino Meira ou algum dos Carreira. E gostam de animais.




sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Vida de cão #6: uma simples caixa de cartão



O nosso lema tem sido "uma no cravo, outra na ferradura".

É importante indicar ao Kiko que não deve roer sapatos, nem roubar meias, nem arranhar isto ou aquilo, sobre quando pode e não pode subir para o sofá ou para a nossa cama. Enfim, tem sido bombardeado com uma série de regras...
A verdade é que criatura alguma neste mundo, inclusive nós e especialmente um bicho que ainda nem tem três meses de idade, aguenta um mundo só de regras e "nãos".

Para o compensar e fomentar uma espécie de equilíbrio tivemos que lhe arranjar algo que ele pudesse arranhar, destruir, o diabo a quatro.

A solução foi uma caixa de cartão, daquelas usadas nas mudanças, que comprámos no Leroy por tuta e meia.

O marido montou-a. Recortou-lhe uma entrada, e fez daquilo uma espécie de toca. Ele entra, arranha-a, arranca-lhe pedaços, espalha cartão por toda a divisão e está tudo bem. É para isso que inventaram um artefacto chamado vassoura.
Quanto esta precisar de reforma, temos outra de reserva.




quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Ode às relações falhadas



Quando penso nestas coisas do Amor, chego à conclusão que o Destino foi bem mais generoso e célere comigo do que alguma vez esperei.

Aliás, se me tivessem dito, jurado a pés juntos até, que iria conhecer a "tampa do meu tacho" quase no início da minha vida adulta, teria agido qual descrente, assumiria que estaria diante de alguém incrivelmente tolo.

Acho que em miúda tinha uma visão muito própria destas coisas amorosas. Lembro-me de ter lido, ainda bastante nova, vários clássicos como "Romeu e Julieta" e de concordar com Frei Lourenço, naquilo do amor dos jovens estar nos olhos e não no coração.

Embora acreditasse, ou melhor, quisesse acreditar no conceito de almas gémeas, amor eterno com todos os requintes românticos, a minha teoria era que, enquanto jovens, não estamos aptos para nada além de relações transitórias, experiências passageiras, sem grandes contornos de compromisso.
Que se ainda somos uma obra em construção, de barro mole, de matéria volátil ainda a descobrir a sua forma, entrar numa relação de cabeça, a pensar que é para sempre seria algo tremendamente irracional.

Depois fui arrebatada tão mais cedo do que antevia, e ainda bem. E só tenho a agradecer a quem nos bastidores do universo tenha puxado os cordelinhos para isso acontecer, mesmo que se tenha apressado para dar uma grande lição a uma miúda demasiado segura de si, das suas opiniões e certezas e dar uma boa gargalhada à minha custa. Acredito num Deus com sentido de humor.
Continuo sem feitio para coisas muito lamechas, mas tornei-me uma crente nesta coisa do Amor.

Não vos conto estas minhas coisas para esfregar em cara alheia a minha felicidade. O objectivo é precisamente o contrário: dar-vos esperança se esta vos falta, garantir-vos que há uma certa ordem cósmica que se disfarça de caos, assegurar-vos que tudo vai ficar bem se vos falha essa certeza.


Mesmo enquanto miúda, com as minhas teorias mirabulantes, a falta de experiência e maturidade próprios da idade, os instintos certos estavam presentes.

Já naquela altura eu olhava para todas as relações sem futuro como oportunidades de aprendizagem.

Hoje, quase nunca penso no passado, mas quando o faço é com gratidão. Não existem relações falhadas, existem relações que nos preparam para a certa, que nos ajudam a ter algumas certezas sobre quem somos e o que procuramos no próximo, as características que desejamos e aquelas que já sabemos serem incompatíveis.

caixa de ressonância







coisas de ver #52


The Librarians






quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

coisas de ver #51


Ao ver isto é impossível não gostar de casas na árvore, e até ficar a suspirar por uma!

Treehouse Masters






cromices #61: O Santinho Padroeiro dos Descuidos ou a evolução natural das coisas



Há dois tipos de filhos: os planeados e os frutos do descuido.
Entre as pessoas que conheço, gentes das minhas relações, mais ou menos próximas, há tanto de uns como de outros, igualmente amados e bem cuidados.

Durante a nossa vida em comum já fomos questionados sobre isto de ter filhos milhares de vezes. Como em tudo, a prática leva à perfeição e já tenho uma resposta pronta que debito de forma automática, que é mais ou menos assim:
"Não temos filhos, nem estamos a considerar ter. Nunca se diz nunca. Talvez um dia mudemos de ideias. Para já, só se fosse por acidente. Mas se isso acontecesse, claro que lhe íamos dar o melhor de nós. Mas, por enquanto, está completamente fora de questão."

E dou por encerrada a questão. Ponto final parágrafo. Muda de assunto.

Os nossos pais estão mortinhos por ser avós.

Havia uma época em que todas as vezes que nos víamos era "vira o disco, e toca o mesmo" com o discurso de quando é que vem um netinho, ai que queríamos tanto um netinho, ou uma netinha. Chegava o Natal, e com este, o discurso festivo de que só faltava o menino Jesus.

A coisa chegou a ser massacrante, e quando a paciência se esgotou meti um travão na coisa. Finquei pé e disse que já chegava daquilo, que davam cabo da paciência a um morto. Que quanto mais cedo aprendessem a lidar com o facto melhor e que mudassem de assunto, que aquele já enjoava. Que "desculpem lá", mas já não podia ouvir falar da mesma coisa, e que o único resultado possível da estratégia de tentar vencer pelo cansaço seria exatamente o oposto do que pretendiam.
Que só um casal tremendamente irresponsável é que iria pôr criancinhas no mundo para satisfazer a "fome de netinhos". Que temos a consciência da imensa responsabilidade subjacente à coisa, se um dia quisermos ser pais é porque aceitámos o compromisso com tudo o que isto implica. Que a decisão é nossa, e qualquer que esta seja tem que ser respeitada. Ponto.

A coisa resultou com os meus sogros. Há bastante tempo que nem tocam no tema. Muito de vez em quando um deslize pontual por parte da minha sogra, mas morre rápido.
Se continuam a pensar nisso, não sei, talvez, é provável. Pelo menos já não puxam conversa sobre isso e eu agradeço.

Com os meus pais, pelos vistos nem tanto. Acalmaram, mas ainda continuam obcecados.

Quando a minha melhor amiga foi mãe notou-se que ficaram com esperança que, de alguma forma e por um qualquer motivo, isso me fizesse mudar de ideias.
Fizeram uma última investida, voltaram à carga. Certo dia, quando se cruzaram casualmente, chegaram a pedir-lhe se ela faria "uma forcinha" para ver se me influenciava.
Quando soube rebolei a rir. Tenho que lhes tirar o chapéu: lá persistentes são!
Tivemos uma nova conversa: que sobrinho lindo é um doce, sim senhor, mas não me fez mudar de ideias.
E dei a coisa por resolvida. De vez. Ou assim pensei eu.


Notei que ainda não, no dia que trouxemos o Kiko para casa. Estava tão entusiasmada e feliz que lhes enviei uma foto do bicharoco, com a legenda: "Parabéns. São avós. Este é o Kiko".
Pronto, falha minha, eu sei!
Na altura pensei que teria piada, e que esta questão dos netos já estava finalmente mais que resolvida. Afinal ando há mais de uma década a dizer que não. Será que só me livrarei da tormenta quando chegar a menopausa?! Chiça penico!

Tive o troco por telefone. Antes de gabarem a beleza do bicho e de quererem saber pormenores, tive que levar a reprimenda, (vá lá, merecida), que quase lhes parava o coração, que por segundos ficaram tão felizes a pensar que tinha finalmente havido um descuido, já que planeado não vamos lá! E logo de seguida, dão com a foto de um cão! Giro, fofo e tal, mas um cão!
(Eu sei, o ponto a que isto chegou!)


Só vos digo, se um dia entrar em casa dos nossos pais, e descobrir que ambos montaram um altar dedicado a um qualquer santo, que se saiba ser padroeiro dos descuidos, destruidor de contraceptivos, não fico admirada. Nada!

A lição a apreender é que mais vale declarar "bébés" um assunto tabu se quiser alguma paz e sossego. É jogar pelo seguro e evitar a todo o custo o uso de vocabulário desse universo.

Na minha cabeça continuo a pensar que hoje não, mas nunca digo nunca. Guardo-me o privilégio de mudar de opinião quantas vezes eu quiser. Mas se acontecer há-de ser por mim, por nós, porque queremos e nos sentimos aptos.

O Kiko, ou se preferirem o "cão", é para além de imensa alegria na nossa vida, o nosso bébé adorado, uma certa "evolução natural das coisas".
Um casal tem de passar com distinção isto de se ter um cão, com o imenso trabalho que dá, a paciência necessária e tudo. Tem de achar isto "peanuts", uma alegria, algo a ser repetido num esfregar de olhos, querer ainda mais do mesmo. E só depois se pode dar ao luxo de pensar sobre bébés humanos, que dão muito mais trabalho, dores de cabeça e aprisionam-nos muito mais.

Sabem o dito "primeiro uma planta, depois um peixe, depois um gato, depois um cão..."?!





terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Vida de cão #5: gastar as energias à fera



O Kiko é uma pulga eléctrica.

Na teoria, já estava preparada para isso e muito mais. As crias são assim, com umas pilhas duracell e danadas para a brincadeira. Junte-se o facto do Kiko ser um Jack Russell e temos cão para, se ligado à corrente, gerar electricidade para o prédio inteiro.

Não o poder passear ainda limita-nos muito. Vai ser excelente quando tal for possível por dois motivos: necessidades fisiológicas na rua, e gastar-lhe as pilhas com umas corridinhas e caminhadas.

Até lá os brinquedos e a criatividade são os nossos melhores amigos.

Comprámos-lhe três brinquedos que ele adora: bolinhas de ténis, um osso de corda, e um pato feito de tecido resistente e com extremidades em corda.

Então há que brincar com ele para lhe gastar o excesso de energia. É atirar-lhe a bola ou qualquer um dos brinquedos que ele vai buscar tudo, mesmo o pato que é quase do seu tamanho. É deixar que ele fique frenético, a puxar por uma das extremidades do osso ou do pato enquanto puxo pelo outro, atiçando-o.
Convém, como já aprendi por experiência própria, ir fazendo pausas quando ele fica muito excitado, antes que tente abocanhar brinquedo, dedos e tudo o que vier. Então, pauso, mando-o sentar-se e ficar. Deixo-o esperar um bocadinho e só depois recomeçamos a brincadeira.

Outra característica dos pirralhos é quererem explorar tudo com a boca. Nos primeiros dias, em que o objectivo era ambientar-se bem à sua nova casa não o chamámos à atenção. Mas agora é importante estabelecer regras, indicar-lhe o que pode ou não morder, ser consistente mas um bocado indulgente por ser um bébé.
O que nos esforçamos para fazer quando morde algo que não deve, ou alguém, é dizer-lhe não ou um "shhhht", e depois dar-lhe um brinquedo que ele possa roer.



A melhor empresa do mundo #3: Apoio à Parentalidade


No que toca à taxa de Natalidade, Portugal é uma referência. Adiantam os meios de comunicação, que temos a segunda mais baixa taxa de fecundidade do Mundo, (aqui), apenas ultrapassados pela Bósnia-Herzegovina; e que tivemos a taxa mais baixa de toda a Europa em 2013, (aqui).

A leitura que me atrevo a retirar das estatísticas é que, claramente a parentalidade não é fácil em Portugal.

E porquê?

- Acredito que seja em primeiro lugar por questões financeiras.

Em Portugal os salários são baixos, dos menores praticados a nível europeu. Dizem que o salário médio mensal de Portugal foi metade da média europeia em 2013, (aqui). Estamos a falar de um número que ronda os 984 euros.
Ora bem, se tivermos um casal em que ambos aufiram este valor, líquido, a coisa faz-se à boa maneira portuguesa - com "cabeça", corta daqui, corta dali, sem espaço de manobra para luxos, - e consegue-se criar um núcleo familiar de classe média com uma criança, quiçá duas.
Não nos esqueçamos é que, ano após ano, engrossam a olhos vistos as fileiras de pessoas que auferem o salário mínimo, assim como as que se encontram em situação de trabalho precário e as desempregadas. E que a média, enquanto indicador estatístico apenas nos diz o meio caminho entre o salário mais baixo e o mais alto.


Já ouvi da boca de pessoas idosas, que neste "tempos modernos" se complicam muito as coisas. Que no tempo delas os filhos criavam-se à mesma, quantas vezes em situações de verdadeira dificuldade. Que "quem alimenta uma boca, alimenta duas".

Vejo que a noção de parentalidade modificou-se radicalmente em poucas gerações. Enquanto membros da sociedade já não aceitamos que criança alguma ande aí ao deus dará, descalça, ranhosa e mal-nutrida, como era usual nesses outros tempos.
Hoje em dia esperam-se dos pais coisas tremendas. Dizem que os filhos não chegam acompanhados de manual, mas as expectativas, os tais "o que fazer" dão para encher enciclopédias, com capítulos sobre tudo, desde os brinquedos, à alimentação, saúde, educação, tudo. Não há pormenor demasiado pequeno ou insignificante que não seja explorado até à exaustão. Até porque tudo isto movimenta um mercado de muitos milhares de milhões de euros.

(Verdadeiramente horrível é que, hoje em dia, estejamos a perder a batalha contra a pobreza infantil. aqui)

Já não se trata somente de esticar o pão para alimentar mais uma boca. São as fraldas, os leites de farmácia e as papas, os mil e quinhentos acessórios, cadeirinhas e carrinhos, roupas, as consultas no pediatra, as actividades de lazer, e a mensalidade do infantário que, se for um filho, leva uma imensa talhada do salário, se forem mais, torna-se geralmente impossível e faz com que compense que um dos cônjugues fique em casa a olhar pelos miúdos.
Sortudos dos que podem contar com os avós para isso!

Depois penso na licença de maternidade, do quanto esta é curta, das amigas que são mães, do aperto que sentiram em terem que voltar ao trabalho, separando-se de um bébé tão novo, tão pequenino, tão indefeso, tão dependente delas.

De como as empresas se habituaram ao mau vício de maltratar as pessoas até na questão da parentalidade. Com que à vontade é que se vai contra a lei, impunemente, e se questiona durante uma entrevista de emprego se a pessoa pensa ter filhos, de a preterir se o confirma. E de isto ser a ponta do iceberg!


- Que faria eu, na melhor empresa do mundo?

Um dia estava a ver um episódio da série "Bones/Ossos" e fez-se luz. A personagem Ossos e a sua melhor amiga Angela tinham sido ambas mães, e embora tivessem que lidar com o regresso ao trabalho e tudo o que isso implica, os bébés estavam a metros de distância, num infantário dentro do próprio Jeffersonian.

Por isso, a melhor empresa do mundo teria um infantário.

Mais uma vez, seria uma infraestrutura aberta a outras empresas em redor, com a intenção de diminuir os custos. Não seria um benefício cedido gratuitamente, mas sem dúvida que a mensalidade seria muito mais baixa do que os preços normalmente praticados, pois o objectivo não seria nunca gerar uma grande margem de lucro, mas sim cobrir os custos e conseguir algum excedente para continuamente investir na manutenção e melhoria das instalações e serviços prestados.

Para além de ser uma ajuda às famílias a nível financeiro, também teria um grande valor emocional, visto que pais e crianças não teriam que passar por uma grande separação.



domingo, 7 de dezembro de 2014

Vida de cão #4: A primeira semana



Hoje faz uma semana e um dia que fomos buscar o Kiko.

E tanto que aconteceu em oito dias!

Na quinta-feira fomos à clínica veterinária levar a segunda dose das vacinas, e do desparasitante interno.
Aproveitei a viagem e já foi microchipado. Tudo certinho.

Levei-o com coleira e trela, mas ao colo, enrolado numa toalha de praia.
Tremeu pelo caminho, talvez num misto de medo e frio, mas quando chegámos não demorou muito a querer deambular, cheirar e conhecer todos os cantos, de cauda alçada.
Mostra bom temperamento, curiosidade e é, até ao momento, sociável com todas as pessoas.

Acho que ajudou o facto de ter levado no bolso do casaco um daqueles sacos para sanduíches com alguns pedaços de ração, para lhe ir dando.

Sem dúvida que ajudaram na hora de o fazer engolir o comprimido desparasitante. Apetecia-lhe mais brincar com ele do que comê-lo, mas misturado com alguns pedaços de ração a coisa foi, sem dramas. Inclusive, os tais pedacinhos tiveram o efeito mágico de fazer passar rápido o trauma do implante do microchip.
Um daqueles momentos em que a experiência de ter cães e gatos difere como do dia para a noite.

Ele está óptimo. Pesa 3kg certinhos. Apenas tem a pele um bocadinho vermelha, fruto do circo de pulgas que trazia no lombo.
Há-de passar rápido, visto que também lhe demos a pipeta para matar essa bicheza toda no próprio dia em que o trouxemos para casa.

Todos os dias puxamos por ele, tentamos ensinar-lhe novos truques e comandos. Ele é rápido a aprender e nota-se que gosta de o fazer.
Já senta, já fica, de vez em quando o jogo em que atiramos a bola e ele a devolve também funciona, já anda de trela ao nosso lado esquerdo, e até já resolvemos a questão da copofragia, que para quem não sabe é o acto dos animais comerem as fezes.

Não é tão nojento quanto parece, nem o bicho sofre de nenhum problema mental.
O que acontece é que na natureza as mães comem as fezes das crias para que os predadores não sejam atraídos pelo cheiro. As crias podem, naturalmente, demonstrar a tendência para as imitar.

Foi fácil de resolver com a ajuda de uns pedaços de ração. Aproveitando os momentos em que ele fazia um cócó, pedia-lhe para focar em mim e não na caca. Como recompensa, um croquete.
Num par de vezes perdeu essa mania.

Hoje foi pela primeira vez à rua. Uma voltinha muito rápida, sempre ao colo, para conhecer pessoas, habituar-se aos sons e cheiros.
Infelizmente, passeios a sério, só em Janeiro.
Segundo o conselho das veterinárias, ao que parece deram-lhe as primeiras vacinas demasiado cedo.
Como resultado podem não ter tido o efeito pleno desejado porque os anti-vírus do leite materno combatem tudo, inclusive o que é injectado na vacina.
Então vamos jogar pelo seguro, e esperar pela terceira dose para as idas à rua, e contacto com outros animais. O seguro morreu de velho, e andam por aí umas estirpes manhosas de parvovírus.

Chichis e cócós no resguardo que existe para o efeito é que nada ainda. Havemos de chegar lá.
O balanço da primeira semana é muito positivo, o que trará a próxima?


sábado, 6 de dezembro de 2014

cromices #60: Ah, o cheiro a napalm logo pela manhã!



Um dia, quando for grande, quero ser uma pessoa zen. Daquelas que emanam serenidade por todos os poros e são impertubáveis, haja o que houver. Tipo Dalai Lama.

Acho que só o facto de o desejar dá claramente a entender que sou o oposto. Há momentos em que penso que, se fosse cão, era um daqueles chihuahas, em modo irritadiço e irritante.
Ou se preferirem, alguém com a disposição esperada para um cenário de guerra tipo Vietname: tensa, hirta, alerta, a voz sai com o volume mais elevado do que desejaria, e pareço pronta a apertar o gatilho à mínima coisa.

Mesmo assim o jogo não acaba a zeros. Ponto de honra por me aperceber, e por tentar melhorar.

Hoje de manhã tinha dado um jeito tremendo ser como o Dalai Lama.

Ainda estamos em período de adaptação cá por casa. A habituar-nos ao Kiko, às nova rotinas, a corresponder ao que ele necessita de nós, à cena do reforço positivo em todas as situações.

Faz hoje uma semana. Estamos felizes mas exaustos. Parecemos uns zombies.
O Kiko é óptimo, tendo em conta que é um bébé, e com donos inexperientes, porta-se lindamente. Da nossa parte, acho que também merecemos, não 20 valores, porque a ignorância tem o seu peso, mas ainda assim uma nota positiva.

Hoje de manhã, bem cedinho, o marido acorda mal-disposto. É uma intoxicação alimentar. Como ambos comemos e bebemos exactamente a mesma coisa, ando à espera da minha vez, mas a rezar para que não aconteça. É que dá um tremendo jeito que um se mantenha apto para cuidar do outro, do Kiko e de tudo o que apareça.

Fomos tomar o pequeno-almoço numa esplanada bem perto de casa, não fosse o diabo tecê-las.


Pequeno-almoço servido e chega um dos nossos amigos caninos, o Ianni, (dúvidas sobre a grafia correcta).
O Ianni é um cão com alguma idade, preto e grande. É um bom cão, como todos os cães, gostamos dele. Mas é um cão muito chato, que mói a paciência a um santo.
Chega à esplanada e anda pelas mesas a pedinchar comida. Entra no "espaço pessoal" das pessoas, ladra, excita-se, não desiste, chateia.
É claro que a culpa não é dele, é dos donos. Não lhe deram a educação devida, deixam-no andar ao deus dará, não se importam nada que existam n pessoas pela localidade que o alimentem, até lhes dá jeito, comportam-se irresponsavelmente e até já ouvi vários relatos que me fazem acreditar que não o merecem, como não lhe abrir o portão num dia de chuva e tempestade.

E eu enfureço-me com estas pessoas e já não há-de faltar muito para lhes ir bater à porta a deitar faíscas dos olhos, porque naquele minuto tenho ao meu lado um marido cadavérico por causa do mal-estar, queremos paz e sossego enquanto tomamos a nossa refeição, e há ali um cão que lá por gostarmos dele não significa que não seja um melga de primeira, com um comportamento que nenhum cão deveria ter.
E é isso que estou quase quase a ir lá dizer-lhes: que um cão é para estar em casa, bem alimentado, protegido dos elementos. Não na rua a exibir comportamentos incorrectos, a incomodar, e sobretudo a correr o risco de ser atropelado porque anda sem trela.

Entretanto marido levanta-se de repente. Diz que já volta e corre até casa. Foi vomitar.
E eu ali fico à espera dele, a olhar para o relógio do telemóvel a pensar que mais 5 minutinhos e cago nisto tudo, o cão que devore as torradas todas que eu vou para casa.
Vão aparecendo amigos e perguntam-me sobre o Kiko. Passam alguns minutinhos.

Chega um casal com um miúdo e sentam-se na mesa ao lado. Estou rodeada por uma criança e um cão tremendamente excitados. Está tudo bem.
O miúdo interpela-me. Pergunta-me se o cão é meu. Trata-me por tu. Digo que não, que não é meu.
Pergunta-me se lhe pode dar festas, e antes de eu ter tempo para responder já está em cima do cão.
Os pais nem se mexem. Eu aviso que o cão não é meu, que acho que lhe pode dar uma festinha, com cuidado e meiguice,  sem exageros. Que tudo deve acontecer sob supervisão, que não me responsabilizo.
O miúdo abusa. Eu volto a avisá-lo que tem que ser meigo. Os pais não se mexem, mas desta vez dizem-lhe qualquer coisa a respeito.
O miúdo continua a tratar-me por tu. Nem todas as crianças são assim, mas este tem modos de pigmeu abrutalhado. Nota-se que está a passar por uma fase (?) qualquer em que gosta de ser um "bocado" malcriado com os adultos, demasiado enérgico no mau sentido, que anda a testar os limites e, não vi que lhe metessem o travão nisso.

Pergunta-me pela enésima vez se o cão é meu, se não é meu de quem é, e quem é que estava sentado comigo, porque estão dois copos na mesa e só lá estou eu, e novamente se o cão é meu...

Não lhe satisfaço todas as curiosidades, era só o que faltava!
Quando não lhe quero responder, sobretudo porque não tem nada a ver com isso ou quando já lhe respondi à mesma questão demasiadas vezes, ignoro-o.
Afinal não é só o cão que precisa de treino.

Respiro fundo, esboço um sorriso. Tento ir às profundezas buscar uma paciência que hoje me falta. Mas as reservas estão em baixo, e eu acabo por lhe dizer que quando for grande deveria ir trabalhar para a Polícia Judiciária, que tem jeito para interrogatórios.
Nada mau, diga-se! - mentalmente estava pensar mais num "porra que és mesmo chato!".

Aplausos para o Ianni que se portou bem com o mini melga. Lá está, é um bom cão, só precisa que os donos se comportem melhor.

Quando se foram embora, pouco depois, dei-lhe umas festas e mais um bocado de torrada para o recompensar pela paciência.
Há tantas opiniões quanto pessoas, mas eu gostaria de ter visto pais mais assertivos. Que, com calma e carinho, guiassem o puto para outro comportamento.
Que o lembrassem de várias coisas: que não se tratam adultos, especialmente desconhecidos, por tu; que enquanto não acalmasse não se poderia chegar perto do cão para lhe dar festas, que um deles o tivesse acompanhado nisso, que ao fim de repetir três vezes a mesma pergunta o chamassem à atenção.
Volta o marido. Consegue a custo mastigar mais um naco de torrada.

Neste momento só eu ando por aqui acordada, a fazer tudo o que é necessário para que os meus dois rapazes estejam bem.



quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Ufa, que alívio!



Afinal era uma boa pessoa. "Somente" despassarada.

Finalmente tudo a andar bem. E ontem, pela primeira vez em algum tempo, dormimos como bébés.

Ufa.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Vida de cão #3: Chichis e cócós



Os cães quando são pequeninos não têm controlo sobre as necessidades fisiológicas. É mesmo assim.
Se não me engano, acho que só a partir dos 6 meses é que começam a desenvolver essa capacidade, a guardarem-se para quando forem à rua.

Sobretudo por esse motivo, castigar um cãozinho porque fez as necessidades no sítio que não desejamos é ineficaz e cruel. Só servirá para assustar e traumatizar a criatura.
Isso inclui aquela mania que algumas pessoas perpetuam de esfregar o focinho do cão na poça de chichi.
Há que ter alguma empatia e sensibilidade. Decerto nenhum de nós gostaria que nos fizessem o mesmo, especialmente se não conseguissemos controlar o que fazemos, quando e onde.


Na véspera de irmos buscar o Kiko, passámos numa loja de animais. Trouxemos o enxoval básico: cama, manta, brinquedos para roer, escova, coleira, trela, produtos para o pêlo e banho e uns resguardos.

Estes resguardos são feitos de um material absorvente que faz lembrar as fraldas dos bébés.
Costumam ser vendidos em conjunto com uma base de plástico toda pipi, mas que optei por não trazer. Achei que seria um desperdício de dinheiro pagar por um acessório que não considero essencial, é somente uma paneleirice, e terá um período de vida útil muito curto, pois a partir do momento em que cão faça as necessidades na rua deixa de ser necessário.

Assim em vez de pagar 20 euros pela base de plástico e mais 5 por uma embalagem de resguardos, trouxe só os últimos. 20 euros que já deram para comprar um saco de boa ração para puppies.

Escolhemos um cantinho da casa de banho para colocar o tal resguardo. É claro que é preciso acima de tudo muita calma e paciência para que o cão aprenda a fazer as necessidades aí.

Por calma e paciência entenda-se esfregona sempre à mão, bons reflexos e articulações bem oleadas - a sério, fica-se nas posições mais estranhas quando no último segundo se dá com uma poça de chichi e há que fazer tudo por tudo para não a pisar. Depois é, como nos ensinaram, agarrar no bicho, exclamar um não!, levá-lo ao resguardo e fazer daquilo uma grande festa.

- Kiko! Chichi! Kiko, cócó! Lindo menino! - repetido ad nauseam, com muitas festas e brincadeira à mistura.

Lemos algures que o intervalo entre comer/beber e fazer as necessidades é curto, que uma opção após a ingestão de alimentos é levar o bicho para tal cantinho e brinca-se com ele até a coisa acontecer.

Já o fiz. Mas é aquela coisa da lei de Murphy. Por mais tempo que lá fiques à espera, o cão só se vai soltar no momento em que for para outra divisão.

Mesmo assim, eu que nunca tinha tido um cão, estava à espera de um cenário muito pior.
Hoje é somente o quinto dia.
Já conseguimos que ele simpatize com o resguardo. Há momentos em que ele até vai para lá brincar.
Ontem fez lá o primeiro cócó, sozinho, sem incentivos nem pressões. Hoje de manhã, a mesma coisa.
Nada mau!

Chichis é que não. É dar-lhe tempo.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Não me ando a sentir nada bem



Eu odeio irritar-me. Sobretudo chateia-me que me obriguem a ser chata.
Faz-me mal à saúde, embrulha-se-me o estômago, baralha-se-me a tripa, fico vai não vai a pensar se vomito, dão-me tremeliques, e dói-me tudo.

Já tive tanto stress na minha vidinha, que gastei de vez a resistência que tinha para com as chatices, tipo os calços dos travões.
Se outrora fui, ou pelo menos parecia um couraçado, hoje nem pensar nisso.

Ora, há uma pessoa que se anda a portal muito mal connosco.
Que ficou de nos enviar algo segunda-feira sem falta. Amanhã já é quarta-feira.

Só não a identifico publicamente, porque ainda lhe dou hipótese de redenção e preciso mesmo daquilo. É meu de direito. Já cá devia estar na minha mãozinha, sem atrasos nem desculpas, com um sorriso e um agradecimento.

A pessoa já admitiu ser assim... despassarada, desatenta. As informações que me chegam é que, sim senhor, é boa pessoa, mas lá está, uma pessoa muito cabeça no ar, desorganizada, que nunca trata das coisas a tempo e horas.

Dou por mim a ter que lhe ligar todos os dias. E eu odeio visceralmente fazê-lo e odeio que mo façam. Acima de tudo odeio este tipo de pessoas que falham com os outros, que nos forçam à condição de chatos.
Somos todos adultos, deveriamos agir como tal. De forma responsável. A irresponsabilidade de uns pesa sempre nas costas de outros, e gera úlceras e mal-estar.

Redima-se e não haverá parte segunda deste post. E eu torço para que isso aconteça. Mesmo!

Continue a dar-me cabo da pouca sanidade que me resta, e passo do modo gentil assertivo para o modo besta destravada.

cromices #59: A emoção dos descontos


Já por meia dúzia de vezes apanhei na televisão o Extreme Couponing, aquele programa em que vemos donas de casa a sairem dos supermercados com vários carrinhos completamente atestados de produtos quase à borla.

Sendo coisa que se passa lá para as Americas seria impossível que a coisa não se pautasse pelo exagero, e até uns certos laivos de absurdo. Pelo menos assim parece aos meus olhos europeus.
Na minha cabeça uma pessoa "normal" não precisa de uma centena de frascos de molho para salada ou refrigerantes, e isso de andar a catar o contentor do lixo à caça de cupões, como se vê em alguns episódios do programa, não me convence.

Tal como por cá, quando existem eventos promocionais que atraem muita gente e dão origem a um caos infernal, que teve naquilo do Pingo Doce o maior expoente nacional, eu sei bem onde vou: para bem longe. Como já assisto ao UFC pela televisão não sinto propriamente a necessidade de ver velhotas, num combate até à quase-morte, armadas com frangos congelados e cuvetes de bifes.

Por outro lado quem não entende o apelo da poupança. Certo?!

Também gosto de poupar. Quem não gosta?
Então ouvi dizer que no supermercado cá do burgo havia coisas com 50% de desconto. Desconto directo, que é dos melhores que existem.

Saquei do tablet e analisei o panfleto da promoção.
Recuso-me a comprar coisas que não preciso nem uso só porque estão baratas.
Entretanto a coisa começou-me a agradar, estavam presentes alguns produtos que já costumo comprar: o mesmo detergente para a louça, gel de banho, papel higiénico, amaciador e afins.

Decidi aproveitar. Já que tinha que ir lá mesmo buscar frutas, legumes e outros essenciais.

Com alguns trocos que tinha no cartão cliente o desconto total ficou em quase 30 euros.
E de repente vi a luz!
Há uma certa descarga de adrenalina contida no acto de não pagar a totalidade do preço.
E de repente, vi-me em versão americana, a liderar um comboio de carrinhos de compras cheios de paletes, não de molho para saladas ou coca-cola, (vade retro!), mas pronto, vá lá, águinha das pedras e mostarda.




segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Vida de Cão #2: O Compromisso



Os animais podem ser muitas coisas: membros da família, companheiros, melhores amigos, terapeutas, guias, e sem dúvida, maravilhosos. Todos eles.

Não são brinquedos, muito menos descartáveis.


Há quem encare os animais de estimação como filhos, e eu pertenço a esse grupo de pessoas.

Sei que há muita gente que não entende tal conceito, que revira os olhos e se benze perante tal ideia, que nos acham maluquinhos.

E eu continuo na minha, não só por uma questão emocional, mas também racional:
É que, tal como um filho humano, o nosso animal de estimação depende de nós para tudo. Para alimento, abrigo, afecto, protecção, assistência médica e educação.

Ambos, seres humanos e não humanos contam com a figura que encaram enquanto pai/ mãe / tutor/ guardião / seja lá o que queiram chamar, para tudo isso. Procuram-nos se têm medo, fome, sede, se estão tristes ou alegres, se necessitam de orientação, se estão doentes, se querem carinho ou brincar. Ambos nos observam, nos imitam, aprendem connosco, e acabam por ser de certa forma o nosso reflexo. Espelho das nossas capacidades e incapacidades.

O meu senso dita-me que qualquer pessoa que demonstre estar apta para tal, sendo consciente e cumpridora, mostra ser Pai ou Mãe, honrando a essência do termo, seja para com um menino ou um cãozinho.

Conheço pessoas de tal forma responsáveis com o papel que assumiram com os seus animais, e até com os animais de "ninguém",( as vítimas de um imenso infortúnio, da negligência e da crueldade, que esperam por uma verdadeira família), capazes de envergonhar muitos pais de crianças humanas, cuja maior aptidão para a parentalidade é terem orgãos genitais. Infelizmente, também existem demasiadas crianças que mereciam bem melhor, perdoem-me o eufemismo.
Sobretudo aqui considero que não há diferenças entre crianças e animais: um só animal ou criança maltratados é um a mais!

Para mim, a grande diferença é a esperança de vida. De um filho humano espera-se que continue a viver mesmo depois de partirmos. É a ordem natural das coisas. Acredito que, quando essa ordem é subvertida, deve ser a dor mais atroz e tenebrosa.

Um animal, em comparação, vive muito menos. Já o sabemos à partida, mas na realidade, acho que ninguém está preparado.
Da dor que advém da perda de um animal sei falar. Já a senti e é das coisas mais horríveis com que já tive que lidar na vida. Deixa marcas.
O que acontece é que com o passar do tempo as memórias felizes vão-se sobrepondo ao sentimento de perda, de luto em todas as suas fases, da tristeza à frustração, da dor à ira.

Por exemplo, eu que perdi o Ulisses para uma doença auto-imune, e os manos Eros e Zeus para a insuficiência renal tive uma longa fase de luto, em que me senti tão, mas tão zangada com o "Universo" pelo nosso destino. Tão furiosa e frustrada por ter dado o melhor de mim, de ter procurado agir sempre de forma certinha e responsável e, mesmo assim perder a batalha contra as doenças. Senti-me pequenina e impotente. Tão triste e vazia sem eles.

Agora, anos depois, recordo-os transbordando unicamente de afecto. As tais memórias felizes que nos fazem sorrir.
Senti-me (sentimo-nos) preparada para um novo compromisso, e foi dessa vontade que surgiu o Kiko, que agora enquanto escrevo se encontra a dois passos de distância, num sono de primeira infância.

(Pausa na escrita. Pôr a máquina da roupa a trabalhar pela terceira vez hoje, dar-lhe de comer, limpar mais um chichi, e brincarmos com a bolinha. Retomo o post, sempre dá para descansar um bocadinho. Adiante...)

Ora bem. Nunca tinha tido um cão.
Sempre que alguém me vinha pedir conselhos e opiniões sobre gatos, eu fazia questão de frisar os aspectos mais trabalhosos e chatos da relação. Falava dos cócós, dos vomitados, do pêlo, dos custos com veterinários, dos objectos arranhados...
Fazia-o porque há que fazer esmorecer aqueles que não estão preparados para lidar com o pacote completo do que significa ter um patudo na família. Fazia-o pelo animal.
Só depois falava dos afectos e de toda a magia que surge da cumplicidade entre um humano e um animal. De não se saber porra nenhuma sobre reciprocidade e amor incondicional até aquele momento.

Também isto não é diferente no caso de uma criança humana. Acho que ao invés de andar toda a gente a tentar impingir a maternidade, frisando uma e outra vez que é uma coisa maravilhosa, o tal "tens que ter!", mais valia focarem os outros pontos, aqueles mais chatos. Tipo as noites sem dormir, as fraldas cagadas, os custos com saúde, educação e tudo o resto, a possibilidade de terem uma "criança" em casa por mais de trinta anos. Pelas crianças. Para que quem pense que quer assumir esse papel, saiba ao que vai, reflicta, queira mesmo. Que saibam que não é uma gravidez que faz ou salva uma relação amorosa entre duas pessoas.
Só depois do sermão deveriam falar na redenção da alma humana através da alquimia suprema.

Fizemos exactamente o mesmo connosco a partir do momento em que o assunto "cão" veio à baila.

Aceitei o compromisso, o tal do pacote completo.
Embora o Natal esteja perto, não foi uma decisão impulsiva. Ponderámos, pedimos ajuda a quem conhece e sabe, pesquisámos, procurámos "o" cão, aquele cujo perfil casa melhor connosco. Aquele que na sua perfeição inata se adequa melhor aos donos que vão dar o melhor de si, mas que ainda têm muito para aprender.
With eyes wide open.


Hoje, ao terceiro dia, após pulgas, muitos chichis e cócós, não esmoreço. Estou feliz.
O compromisso é para toda a vida, e 15 anos parece tão pouco, mesmo ao virar da esquina.



Vida de Cão #1: Programa de Domingo à noite



Nós os três, (eu, o marido e o Kiko), no sofá a ver o Cesar Millan.




sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Quando falo de Amor #7







Saudades do meu Alentejo



O Cante Alentejano foi eleito Património Imaterial da Humanidade, como sabem. É uma notícia feliz, que nos orgulha.

Inevitavelmente é uma notícia que me faz pensar no Alentejo, no "meu" Alentejo.
Este é uma amálgama de memórias felizes. Imagens, cheiros, sons, sabores, emoções.
Primeiro e acima de tudo, são os meus Avós.

E hoje, por causa do Cante, penso no "meu" Alentejo, e sem querer emociono-me. Tenho tantas saudades dos meus Avós!

Passaram-se uns bons anos desde o momento em que os meus Avós partiram até que voltei a estas terras, desta vez na companhia do meu marido.
É uma daquelas coisas que nem tento explicar, talvez eu seja uma mariquinhas e pronto, não há nada a fazer, mas há sempre uma lágrimazinha fujona que tento disfarçar, quando me encontro diante daquelas planícies.


Lições do meu pai #4




Viva o Cante Alentejano, Património Cultural Imaterial da Humanidade!
(mais aqui )






quarta-feira, 26 de novembro de 2014

coisas que gosto #20: Telepatia



De acordar a pensar numa amiga com quem não falava há já algum tempo, e de nesse mesmo dia receber um telefonema dessa mesma amiga.

Opá, tão bom!


E ainda há quem julgue que a telepatia é matéria de ficção!

cromices #58: Não dar cavaco...



A expressão portuguesa "não dar cavaco" significa "não responder, não prestar ou não dar atenção, ignorar, não contemplar alguém ou alguma coisa, não estabelecer ou recusar o diálogo".
 
Ora, é que nem de propósito!

Temos um Presidente da República, de seu nome Cavaco, que tem como hábito não dar cavaco.
 
Já li muito sobre a importância da escolha dos nomes, da sua influência na personalidade da pessoa, mas sinceramente nunca esperei dar de caras com um exemplo tão literal!
 
Isto é caso para aconselhar os futuros pais a escolherem nomes como Justo, Honesto, Honrado ou Meritório.
Pelo sim, pelo não, é coisinha para justificar os vinte e tais nomes próprios de qualquer Alteza Real, e dar azo a que a moda pegue.
 
Eu cá imagino algo tipo "Amável Saudável Honrado Salvador da Pátria Eficaz Trabalhador Talentoso Criativo Sortudo Meritório Atlético Inteligente Bem Sucedido Respeitador Ecologista Amado Feliz Visionário Sábio Longa Vida" - João para os amigos.
 
Assim era tudo muito mais fácil, a partir do momento que qualquer cidadão saberia à partida que era um estúpido do caraças se votasse num indivíduo de seu nome "Trafulha Off Shore".
 
Mas já estou a divagar...
 
 
O que eu queria mesmo dizer é que, o nosso mui querido Presidente, como é seu apanágio, calou-se caladinho aquando a detenção do Sócrates.
 
Ora, eu tenho a mania de me tentar colocar no lugar do outro, de reflectir sobre o que faria na sua posição. É assim que construo as minhas expectativas em relação ao próximo.
 
E, a minha expectativa em relação à pessoa que ocupa o cargo de Presidente da República, Cavaco ou não Cavaco, era que se chegasse à frente, que emitisse, o quanto antes, um parecer a partir de Belém.
 
Que despendesse de cinco minutinhos para afirmar a Portugal e ao Mundo que a Justiça é basilar em qualquer nação que se queira chamar de civilizada, que todo o cidadão é inocente até prova em contrário, mas que não existe absolutamente ninguém que esteja acima da lei.
Que todo o crime cometido por qualquer cidadão é grave e condenável e deve ser punido de acordo com a sua severidade, mas que um crime cometido por um cidadão que se movimente dentro da esfera política e em nome do Estado é duplamente mais sério, pois este, pelo cargo que assumiu, tem o dever perante milhões de cidadãos, de se comportar de forma escrupulosamente idónea.
Que o papel da Justiça é agir. E quando existe acção por parte desta, a mensagem que o País e o Mundo devem reter, é que Portugal está decidido em focar-se no Bem Comum, em expurgar-se de toda a corrupção e vilania que atrasam o progresso, a evolução e o bem estar de todos cidadãos.
 
Just saying...
 

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Ai, andas tão caladinha e tal...



E não é que não tenha nada para vos contar, que me faltem temas sobre os quais opinar e assim.

Pelo contrário!

O problema é mesmo esse, estou tão eléctrica, com tanta coisa a passar-me pela cabeça ao mesmo tempo, que bloqueei.

Vou tomar um cafézinho a ver se acalmo.




sexta-feira, 21 de novembro de 2014

coisas de aprender: The "Grand" MTHFR gene







Inspirações / Aspirações



Um dia, quando for Grande, quero ter um Espírito tão Nobre quanto um Cão vadio.


(ler aqui ).



Desejos #3: O primeiro livro



Ainda me lembro de um dos primeiros livros que recebi. É uma memória forte, vincada, tão boa, de quando ainda era demasiado pequena, de quando ainda faltava muito para aprender a ler.

Era um livro enorme, de capa dura: "As Viagens de Gulliver" de Jonathan Swift.

Era um livro belissimamente ilustrado. E, mesmo sem saber ler, adorava passear os dedos e os olhos pelas suas páginas, num estado de absoluto maravilhamento.
O amor à primeira vista acontece, e é um momento que jamais se esquece. É indelével essa minha memória de há trinta e tais anos atrás: foi o momento que me apaixonei irreversivelmente pelos livros, e tudo o que estes nos permitem.

Um livro tem o poder, especialmente junto de uma criança, de ser um portal mágico para a Imaginação. E não há magia como a própria Imaginação!
E se a descobrirmos em tenra idade, existe uma grande chance que, mesmo na vida adulta, nunca percamos a capacidade de imaginar, de criar, de nos maravilharmos, o que é em si uma das maiores dádivas da vida, algo digno de preservar por toda a existência, custe o que custar.

Esta memória é tão feliz e tão forte, que a revivo em forma de filme, a cores, e com todos os sentidos. Parece que me vejo a agarrar aquele enorme e lustroso volume, com as minhas mãos pequeninas, de lhe sentir o peso e a textura. Sinto de novo a emoção da novidade, da descoberta, de gostar daquela coisa nova, e sorrio.

Relembrei-me deste momento delicioso quando pensei nos filhos das minhas amigas, nesses sobrinhos-emprestados-lindos-que-a-tia-doida-adora, e de repente soube que tia quero ser para eles.

Ainda são demasiado pequeninos, mas quando chegar a altura, quero ser a tia que lhes oferece o primeiro livro, o primeiro de muitos.

Reclamo para mim esse privilégio! Quero que tenham uma memória tão mágica e feliz quanto a minha.
Os livros trouxeram tanta coisa boa para a minha vida, que quero partilhar isso com eles.

Ainda bem que não é para já, preciso de tempo para escolher o "livro perfeito".


caixa de ressonância







Quando os homens falam de amor #44







quinta-feira, 20 de novembro de 2014

coisas de pensar: Para turista ver



Todos sabemos que o Turismo tem uma importância fulcral para a nossa economia, diz que o seu contributo para o P.I.B. tem para nós mais impacto do que para outro qualquer país do Mundo, (aqui ).

Contudo, quando ouço sobre as estratégias deste sector, quando falam "do investimento para o turismo" há um arrepio que me percorre a espinha, e não é de prazer.

Odeio quando enchem a boca para falar de estratégias para o turismo, de construir isto, aquilo e aqueloutro para turista ver. É que me fazem lembrar os resorts 5 estrelas em destinos de terceiro mundo, ou a Cuba pré Castro, playground dos americanos: beber, fumar e ir às putas. As putas tristes.

Podem dizer os de fraca memória, que não somos Cuba.
A esses refresco a memória sobre como era o Algarve há poucas décadas atrás. Onde quase tudo o que existia relacionado com o turismo era direccionado para o turista estrangeiro, em que o visitante nacional chegava a ser tratado com desdém e maus modos, relegado porque havia sempre que estar, primeiro e acima de tudo, disponível para os que não pagavam em escudos.
As putas podiam estar na Cuba de outrora, mas ali era-se recebido por alguns dos seus filhos.

Mais tarde, motivados por uma crise, compreenderam que era inviável depender somente do visitante estrangeiro, e tiveram um momento epifânico, aprenderam a valorizar o turista nacional e com base nessa nova atitude houve progresso e evolução, com ganhos para todos os envolvidos.
Muitos até ganharam "amnésia" em relação ao velho Algarve. Eu gosto de recordar, não para constranger, mas para lembrar o resultado de quando se mete "palas nos olhos" e se ignora o quão fundamental é saber produzir e servir, em primeiro lugar, para os da "casa", para nós.

Não quero viver num parque temático. Sobretudo não quero que aumente a disparidade da qualidade entre o que existe para o cidadão e para o turista.
Não quero que as nossas aldeias, vilas e cidades não sirvam para viver, só para visitar. Em que porta sim, porta sim, hajam hostels, e hotéis de charme e espaços design rónhónhó, lojinhas gourmet, estabelecimentos pseudo-tradicionais com ementas em inglês, francês e alemão, com preços proibitivos, e monumentos nacionais que nem todos os cidadãos conhecem e poucos visitaram mais de uma vez, porque os preços dos bilhetes, também esses são para turistas.


Quem me conhece bem, sabe que quando critico é porque tenho na manga mais do que a crítica.

E a minha sugestão é:

- Olhem para as localidades na óptica dos cidadãos.
Invistam em infraestruturas, em remodelações, que aumentem a qualidade de vida destes: segurança, espaços verdes, ciclovias e pedovias, transportes públicos de qualidade.
Reabilitem os tantos edifícios moribundos que sobejam por todo o lado, (quantos destes verdadeiros tesouros arquitectónicos), e transformem-nos nos tais hostels, mas também em habitações, em espaços para a cultura, para a prática de desporto, para a saúde e a educação.

Não foquem no turismo. Foquem-se em tornar um sítio feliz, vibrante, acessível para todos, e os turistas virão.
Se os cidadãos encontrarem nas suas terras um espaço convidativo, apelativo, pessoas de todo o mundo quererão comungar dessa experiência.

E essa é a única "estratégia para o turismo" que defendo, sem ghettos, sem eles e nós.


caixa de ressonância







quarta-feira, 19 de novembro de 2014

fashion coisa #3: O traje que melhor nos assenta




Quer sejamos homem ou mulher, independentemente da nossa altura, peso, idade, raça, da forma do nosso corpo, há um traje especial que assenta a todos que nem uma luva.

É a nossa pele.


Tivesse eu poderes, e uma das primeiras coisas que faria era erradicar do pensamento humano os complexos para com o próprio corpo, os preconceitos em relação à nudez, a falta de amor próprio.

Não vos estou a incentivar à prática do nudismo, (mas se vos der na gana, força!), nem à exibição gratuita do vosso corpo. Por favor, não distorçam esta mensagem.

O que eu gostaria é que todas as pessoas se sentissem, na sua nudez, tão elegantes, confiantes, graciosas, exuberantes e felizes como se estivessem a envergar o mais belo conjunto Dior, Valentino ou Armani.

Porque ao contrário do que algumas mentes doentes e perversas querem fazer crer, não há nada de ordinário, obsceno, feio e pecaminoso nos nossos corpos nus.

Aí sim, os trajes que se adquirem nas lojas, serviriam para adornar, aquecer e não para camuflar e esconder. Porque se dizem que a moda é bela, uma forma de arte e afins, é uma pena que sirva para isso.

Mais importante, é um desperdício de tempo e de vida não sermos felizes na nossa pele.



Quando as mulheres falam de sexo #38







Quando os homens falam de amor #43







caixa de ressonância







terça-feira, 18 de novembro de 2014

Quando os homens falam de amor #42







Quando as mulheres falam de sexo #37







cromices #57: A preparar-me para o Inverno...



Cá por casa usa-se muito a expressão "ursa na gruta" em relação à minha pessoa.

Eu nem discuto. Já me rendi ao facto que sou um animal. Que tantas e tantas vezes, os meus instintos animalescos estão muito mais despertos e saem-me com maior naturalidade, do que propriamente isto de ser pessoa, humana, e a necessidade de às vezes pensar antes de agir como tal, como se fosse algo novo, uma lição ainda não assimilada totalmente.

E eu sou um animal que hiberna.

E como os animais que hibernam, chegado o Outono, aumenta a letargia e o apetite. O corpo pede calorias, calor, aconchego, não está virado para práticas desportivas nem grandes aventuras.

Confirma-se: "ursa na gruta" assenta-me que nem uma luva.






segunda-feira, 17 de novembro de 2014

caixa de ressonância














Quando falo de Amor #6: O papel de anti-herói





Acreditem em mim quando vos digo que as pessoas com pior feitio são as que mais (vos) amam.


Sei do que falo. Tenho um feitio execrável, épico de tão bera, sustentado por uma capacidade de amar nunca menor.


Deduzo que aos olhos de alguns, eu devo parecer uma louca, porque só os loucos e os tolos são desprovidos da capacidade de serem diplomáticos, de dizer e fazer o que lhes vem à cabeça sem a consideração pela opinião alheia que tantas vezes nos constringe.


É claro que sei ser diplomata. E bem.


A grande questão reside no papéis que decidimos assumir. A Vida é como uma grande peça, que necessita, para se desenrolar e acontecer que, todos nós subamos ao palco. Cada um veste o papel que quer, ou que acha que deve vestir.


E, tal como nas melhoras peças, nem tudo o que parece, é.


Eu decidi vestir o papel de anti-herói. Mais por obrigação do que por vocação, talvez. Por saber que não é um papel desejado. Que assim sendo, mais vale assumi-lo do que correr o risco de ninguém lhe pegar, ou de este peso recair sobre as costas de alguém que quero ver protegido.
E, como todos estes papéis, também este é necessário.


É fácil antipatizar com esta personagem. O anti-herói quando entra em cena, não nos vai passar a mão pelo pêlo, não nos vai facilitar a vida concordando com tudo o que dizemos e fazemos, não vai ignorar o que é errado com um sorriso e uma palmadinha nas costas. Não é um "enabler".


O anti-herói não precisa de ser pessimista, nem desprovido de emoções. Poderá abraçar-vos, falar-vos da luz no fundo do túnel, do copo meio cheio ou da bonança após a tempestade.


Pode até ser bastante empático e pragmático, sentir o mesmo que vós, quem sabe até de uma forma muito mais profunda do que vos é possível, enquanto procura, qual cão pisteiro, uma solução para os problemas.


Mas vai fazê-lo cumprindo o seu papel, o melhor que souber, não sem antes, com uma frontalidade quase caústica, sem usar paninhos quentes nem ser delicodoce, vos dizer na cara que fizeram merda, que erraram, vai-vos apontar o que seria esperado de vós, confrontar-vos, questionar e debater, fazer de advogado do diabo e simultaneamente de encarnação da Justiça, vai-vos moer o juízo, andar em cima de vós, enumerar as consequências dos vossos actos, exigir que aprendam a lição, que façam melhor da próxima vez.


Tudo por Amor. Porque só se rala quem quer bem. Só quando somos indiferentes a alguém é que os deixamos acelerar no erro, até se espetarem violentamente contra um muro.









cromices #56: Anita e os acidentes domésticos





O marido diz que eu sou "muita bruta", e eu dou a mão à palmatória. Também admito que sou meio descoordenada e que é com a maior das facilidades que a cabeça se me descola do pescoço, para ir pairar, feito balão, no "mundo da lua".
Conheço-me bem, mais vale admitir a verdade!

Ora esta mistura é meio caminho andado para alimentar uma propensão à ocorrência de acidentes domésticos.


De vez em quando, lá se ouve um "pum catrapum zás pás". É uma daquelas coisas que ocorrem com uma regularidade não assim tão frequente, mas as vezes suficientes para deixar o homem da casa "vacinado". Já não vem a correr, sobressaltado, como há uma década atrás. Já evoluimos para o estado em que isto, tendo em conta que raramente ocorre algo sério, dá material para "private jokes".

- "O que é que partiste?!" - berra ele de outra divisão. E eu respondo, entre risos, que "Está tudo bem! Nada, não foi nada... de especial". Ao que ele replica, gozão como só ele, "Já tinha saudades!"


E ele sabe que se for algo sério, eu trato de dar o alarme. Como no outro dia, em que calhou mal estar distraída enquanto lavava o maior e mais afiado facalhão cá de casa.


Cortei dois dedos. Nada de especial. Pareciam aqueles cortes de papel. Durante dois segundos pensei "Meh, coisa pouca. Está tudo bem", e continuei com o que estava a fazer.
Até que um dos dedos começa a sangrar. Muito. E eu entro no modo "drama queen": é de ver todo aquele sangue. Porque com queimaduras até me porto bem: água fria, pomada com fartura, e siga a marinha.
E acabamos na casa de banho, com ele a fazer-me o curativo, e eu a fazer beicinho e a queixar-me que tenho um "dói dói".





sexta-feira, 14 de novembro de 2014

coisas de pensar: Sobre isso da Legionella





Avançam os meios de comunicação sobre a possibilidade do surto de Legionella ser resultado de um crime ambiental.
(ler aqui)


Pergunto eu: caso se verifique a veracidade dessas alegações, e tendo em conta que deste surto resultaram 7 mortos, para além das centenas de infectados, a acusação de crime ambiental não deveria vir acompanhada de outra acusação, a de homicídio por negligência?







coisas de ver #50





Constantine













quarta-feira, 12 de novembro de 2014

coisas de ver #49





"A Invenção da Mentira"























cromices #55: das minhas taras e manias





Na última vez que me dirigi ao centro de saúde, no início de Março, avisaram-me que tinha uma vacina em falta, que deveria ter sido tomada há anos.


Na verdade não sei do meu boletim de vacinas praticamente desde que me mudei da casa dos meus pais, e nunca mais me tinha lembrado disso. É o que acontece por norma às coisas que tento "arrumar melhor", na tentativa de não as perder. A emenda é sempre pior que o soneto. Sou assim despassarada.


Como estava doente, não a pude levar naquele dia.
Pedi uma segunda via do boletim, e avisaram-me que tinha que agendar a toma da vacina. Tudo muito bem, pensei eu. Se o objectivo é a eficácia, há que respeitar o modelo de organização escolhido.


A viagem até ao meu centro de saúde, embora não fique a uma grande distância da minha casa, é um pesadelo para quem, como eu, anda de transportes públicos. Requer um elevado grau de mentalização o facto de saber à priori que me espera o desperdício de duas ou mais horas, (somando ida e volta), à espera numa paragem.


Então, decidi por uma questão de eficiência, (já vos disse que adoro eficiência?!), e para me poupar a paciência (que não abunda por estes lados), juntar dois em um. Marcar a toma da vacina e levantar o boletim no mesmo dia.


Quando me restabeleci, procurei o número de telefone na internet e liguei para marcar a dita. Durante cerca de duas semanas seguidas, liguei, liguei, liguei dezenas de vezes por dia. Nunca ninguém me atendeu.
Fui investigando se aquele número era o correcto, e obtinha sempre o mesmo número. Continuei a tentar, sem qualquer resultado.
Em cada um desses dias, desistia quando me sentia a perder terreno na batalha contra a ira, quando estava por um fio, prestes a atirar o telefone contra a parede. Isto depois de chamar, a quem estivesse do lado de lá, tudo e mais alguma coisa.


Passados meses, decidi fazer como a avestruz, ignorar a questão. Só de pensar na mesma, deixava-me um peso no peito, a inspirar e a expirar pausada e forçadamente como as senhoras em trabalho de parto, que é como eu fico quando estou a meio de uma batalha pessoal, a tentar tudo por tudo para que não me dê um amok.
Um momento muito semelhante às cenas em que o Bruce Banner tenta impedir, à força toda, a sua transformação em Hulk.


Junte-se ao facto de eu ser a mulher Hulk, de perder a cabeça com demonstrações de ineficácia, (isto deve ser genético, porque já o meu pai também fica prestes a ter um colapso nervoso diante da ineficiência), o meu medo de agulhas e uma subtil paranóia com germes, doenças e afins.




Esta última, adjectivo-a de subtil porque não lhe autorizo que ganhe uma dimensão que lhe permita dominar a minha vida. A sua influência depende dos dias e das ocasiões, e meço-a conforme a energia que o meu lado racional tem que investir para que esta se mantenha pequena, subtil, imperceptível.


Como descrever esta minha "tara e mania"?


Ela ganha maior força quando estou na presença de pessoas doentes. Estas deixam-me desconfortável.
Fico apreensiva e nota-se na minha expressão facial, quando alguém espirra ou tosse na minha presença, sem o devido cuidado de tapar a boca. O tal "mínimo dos mínimos" que nem toda a gente segue.


O meu desconforto aumenta exponencialmente quando isso acontece num qualquer lugar fechado, tipo autocarro, carruagem de comboio, escritório, enfim qualquer lugar fechado em que nos vejamos forçados a respirar o mesmo ar. O meu reflexo é suster a respiração, mesmo tendo a percepção de que nada me vale, a não ser que tivesse a capacidade sobre-humana de o fazer durante toda a minha presença lá.


Há anos, quando éramos utentes de um health club ocorreu uma situação que, em certo grau, também contribuiu, (embora não fosse a causa principal), para que deixasse de frequentar ginásios.
Nestes espaços, quando vamos usar as máquinas de treino, é-nos dada uma toalhinha que devemos usar para limpar o nosso suor da máquina, deixando-a em condições para a próxima pessoa.
Um dia, em amena cavaqueira, os personal trainers disseram-me que já tinham comentado entre si que me achavam "muito gira e muito fofinha" por ter tanto cuidado a limpar as máquinas, o que não era muito usual.
Fiquei assim meio enojada ao saber que a maioria dos clientes não tinham o mesmo cuidado. Parei de usar as máquinas.


Quando o meu centro de saúde era o de Sintra - um edifício velho, onde os pacientes se amontoavam numa exígua sala de espera - muitas vezes optei por esperar pela minha vez na rua, atenta às chamadas. Entrava diversas vezes para observar o número da senha que aparecia no placard, sustendo a respiração até voltar à rua.
Sim, já me sentei diversas vezes na sala de espera, com outros utentes. E faço-o com mais facilidade se estiver acompanhada, logo distraída.


Esta "tara" faz-me desconfiada. Ou melhor, sempre desconfiei que a grande maioria das pessoas, na grande maioria dos sítios, não têm os cuidados que deveriam ter, que não sabem fazê-lo ou estão-se a cagar para a coisa, que os cuidados com manutenção, higiene e desinfecção dos espaços não se aproximam sequer dos níveis adequados. A verdadeira consequência desta "mania" é que me faz ralar com isso, uns dias mais que outros.
Que não há excepções, que se vê disto em todo o lado: locais de trabalho, transportes, restaurantes, cafés, hóteis, mercados, centros de saúde e hospitais...


A minha "tara" tem uma vozinha interior.
Quanto à falta de cuidado que acabei de descrever, e juntando-se-lhe esta coisa da Legionella, a vozinha empertigada diz-me "vês como tenho razão?!".


Esforço-me por não lhe dar ouvidos. Se o fizesse estava bem tramada da vida. Mas isso faz com que seja uma pessoa de Fé.
Fé que, no restaurante, tenham tido os cuidados suficientes para não me matarem com uma salmonella, que no consultório o médico tenha desinfectado o estetoscópio entre utentes, que a pessoa que me prepara o pequeno-almoço tenha lavado devidamente as mãos, e por aí fora. Acho que já deu para compreender.


Em conclusão, passados 8 meses ainda não fui tratar da puta da vacina nem levantar o boletim, pardon my french.


Tirando as nossas férias, essa minha "voz" arranjou sempre uma desculpa à altura. "Olha que há greve de médicos, não vais lá fazer nada"; "Olha, agora foram os enfermeiros, estás fodida!"; "Em Agosto é que te lembras? Deves ter cá uma sorte!";  "Já ouviste falar de ébola?! O seguro morreu de velho!"; "Olha mais uma greve, estás cá com uma pontaria! Já jogaste no euromilhões?"; "Experimenta ligar. Ninguém atende?! Ah "profissionais do sexo", porque não atendem?! Ide todas para o falo!"; "Olha, agora é a legionella! Tens a certeza que queres arriscar?"









terça-feira, 11 de novembro de 2014

coisas que gosto #19: Portas com Arte





Hoje, na minha deambulação pela blogo-vizinhança, encontrei no espaço da D. Rainha do blog "A Rainha e a Ervilha", algo que me deixou inspirada.


Tratava-se de uma porta pintada de azul, povoada por um cardume de sardinhas que ao invés de escamas vestiam padrões típicos de azulejos. Para coroar esta obra, versos de Vitorino Nemésio, da sua "Correspondência ao Mar". Podem ver como é linda, aqui.


De cada vez que vejo uma porta assim interrogo-me porque não somos recebidos por Arte e Poesia em todas as moradas!


Eu, que passo 90% da minha vida a pensar, muitas vezes imagino como seria, aos meus olhos e sentidos, o melhor local para se viver. Entrego-me à fantasia dos pormenores e, garanto-vos, nesse meu lugar imaginado, as casas receberiam-nos com portas com arte, como se todas elas fossem um portal para um sítio, quiçá, mágico.


Tenho a crença profunda que o lugar da Arte é também, e sobretudo, nas ruas. Por todo o lado. Não só em livros, galerias e museus.
Mal comecei a estudar Publicidade, já tinha a certeza que, se um dia tivesse que escrever uma tese, esta seria como a Publicidade poderia desempenhar também um papel na democratização das Artes, ser um veículo destas. Imaginava outdoors e mupis a suportarem obras de Vermeer, Rubens e Van Gogh, e muitos outros, aumentando o apelo visual de locais, tantas vezes tão desinteressantes.


Porque o Mundo seria melhor se em todas as esquinas, a Alma humana encontrasse alimento. Porque acima de tudo a Beleza, que nos chega através da expressão artística, é isso mesmo: alimento espiritual que nos eleva e faz de nós melhores. Não é coincidência que a Beleza seja uma das Três Graças!


Já chega de verborreia! Deixo-vos com portas com Arte, e de como estas têm o poder de melhorar um pedaço de mundo.



















O top "Bored Panda" das portas mais bonitas do mundo, aqui!









coisas que gosto #18: A lenda de S. Martinho





Desde criança que gosto muito desta tradição outonal do Magusto, em especial da lenda de S. Martinho.


Fica aqui então a história de S. Martinho segundo as palavras de Rita Cipriano, num artigo que fui buscar ao site Observador.pt.




"São Martinho, ou Martinho de Tours, nasceu em cerca de 316 na antiga cidade de Savaria na Panónia, uma antiga província na fronteira do Império Romano, na atual Hungria. Filho de um comandante romano, cresceu na região de Pavia, em Itália, no seio de uma família pagã. Criado para seguir a carreira militar, foi convocado para o exército romano quando tinha quinze anos, viajando por todo o Império Romano do Ocidente.


Apesar de ter recebido uma educação pagã, foi em adolescente que Martinho descobriu o Cristianismo. Mas foi só mais tarde, em 356, depois de ter abandonado o exército que foi batizado. Tornou-se discípulo de Santo Hilário, bispo de Poitiers (na zona oeste da atual França), que o ordenou diácono e presbítero, regressando de seguida a Panónia, onde converteu a mãe. Mudou-se depois para Milão, de onde terá sido expulso juntamente com Santo Hilário. Isolado, terá passado algum tempo na ilha da Galinária, ao largo da costa italiana.


De volta à Gália, foi perto de Poitiers que fundou o mais antigo mosteiro conhecido na Europa, na região de Ligugé. Conhecido pelos seus milagres, o santo atraía multidões. Foi ordenado bispo de Tours em 371 e fundou o mosteiro de Marmoutier, na margem do rio Loire, onde vivia na reclusão. Pregador incansável, foi também o fundador das primeiras igrejas rurais na região da Gália, onde atendia tanto ricos como pobres. Morreu a oito de novembro de 397 em Candes e foi sepultado a onze de novembro em Tours, local de intensa peregrinação desde o século V.


É na data do seu enterro, três dias depois de ter morrido em Candes, que se comemora o dia que lhe é dedicado. Acredita-se que, na véspera e no dia das comemorações, o tempo melhora e o sol aparece. O acontecimento é conhecido pelo “verão de São Martinho” e é muitas vezes associado à conhecida lenda de São Martinho.


A lenda de São Martinho





Num dia frio e chuvoso de inverno, Martinho seguia montado a cavalo quando encontrou um mendigo. Vendo o pedinte a tremer de frio e sem nada que lhe pudesse dar, pegou na espada e cortou o manto ao meio, cobrindo-o com uma das partes. Mais à frente, voltou a encontrar outro mendigo, com quem partilhou a outra metade da capa. Sem nada que o protegesse do frio, Martinho continuou viagem. Diz a lenda que, nesse momento, as nuvens negras desapareceram e o sol surgiu. O bom tempo prolongou-se por três dias.


Na noite seguinte, Cristo apareceu a Martinho num sonho. Usando o manto do mendigo, voltou-se para a multidão de anjos que o acompanhavam e disse em voz alta: “Martinho, ainda catecúmeno [que não foi batizado], cobriu-me com esta veste”.




As tradições do dia de São Martinho





O dia de São Martinho é festejado um pouco por toda a Europa, mas as celebrações variam de país para país. Em Portugal é tradição fazer-se um grande magusto, beber-se água-pé e jeropiga. Esta é também uma altura em que se prova o novo vinho, produzido com a colheita do ano anterior. Como diz o ditado popular, “no dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho”.


De acordo com alguns autores, como José Leite de Vasconcelos e Ernesto Veiga de Oliveira, a realização dos magustos remonta a uma antiga tradição de comemoração do Dia de Todos os Santos, onde se acendiam fogueiras e se assavam castanhas. Em outros países, como na Alemanha, acendem-se fogueiras e fazem-se procissões, e em Espanha matam-se porcos, tradição que deu origem ao ditado popular “a cada cerdo le llega su San Martín” (“cada porco tem o seu São Martinho”).


Também no Reino Unido existe a expressão “verão de São Martinho” que, apesar de já raramente utilizada, está também ligada com a crença de que o tempo melhora nos dias que antecedem o feriado."





segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A desigualdade aprende-se em casa ou, o grande pecado maternal





Retrocedamos por breves momentos até ao passado longínquo da nossa espécie, digamos aos tempos da Idade da Pedra.


Vivêssemos nesta época e qualquer um de nós teria que saber caçar, fazer fogo, conhecer que plantas e frutos seriam comestíveis e os que teriam propriedades medicinais, fazer ferramentas a partir de pedra e muitos outros utensílios a partir dos materiais encontrados na natureza, como cestos, construir abrigos, fazer vestuário a partir das peles dos animais, etc.


Este contexto é um óptimo exemplo para perceber que todos estes conhecimentos são essenciais, e pessoa que não os detivesse seria inapta para a sobrevivência. Tão simples quanto isso.


Depois, em algum momento da nossa evolução (?) começaram, sabe-se lá porquê, a serem criadas distinções sobre que tarefas seriam mais "apropriadas" para homens e  mulheres.
E começaram-se a formatar todos os seres humanos segundo uma lista de estereótipos que viraram norma social.


Uma das grandes consequências para além da desigualdade, é a incompetência, a inaptidão.


(Há muito para dizer sobre esteréotipos e desigualdade, e por isso mesmo vou tentar não me dispersar, senão perde-se o fio à meada.)




Hoje, pelo menos na nossa sociedade, as tarefas que definem o nosso quotidiano e nos são indispensáveis, terão o mesmo fim que tinham na Idade da Pedra, (alimentação, abrigo, etc), mas evoluíram na forma. Vamos às compras, não vamos à caça. Não fazemos utensílios, compramo-los.


Saber cozinhar, tratar da roupa, limpar a casa, gerir o orçamento e fazer compras, são algumas das tarefas rotineiras que qualquer pessoa deve dominar para ser considerado um indivíduo capaz e autónomo.
Não se espera que todos saibam desempenhar todas as tarefas com mestria, mas espera-se certamente que nos saibamos desenrascar minimamente.




Um dos títulos deste post é "o grande pecado maternal", e a escolha foi propositada, pelo seguinte:


Sempre me causou espécie as mães que distinguem os filhos das filhas.


Vem-me à memória uma colega de escola, de quando tinha cerca de 11 ou 12 anos, a imagem dela a passar a ferro com a mãe, e de como já dominava essa tarefa e muitas outras, enquanto o irmão mais velho estava protegido de todos esses afazeres.


Assim como esta lembro-me de tantas outras histórias e pessoas.


De uma mãe, trabalhadora, e de como ficava até de madrugada a passar a roupa do marido e filhos, pilhas imensas, a cozinhar almoços para o dia seguinte. Que insiste em se levantar da mesa, durante a refeição, para ir buscar tudo o que alguém se lembre de pedir.


Há mães que quando ouvem opiniões sobre a divisão igualitária das tarefas domésticas entre homens e mulheres, ficam horrorizadas. "Era só o que faltava! Ai, nem pensar!". Ainda as há assim.


Há mães, que se dirigem à casa dos filhos para limpar, tratar da roupa e cozinhar.
E que vontade que inibo com um enorme esforço de, quando me deparo com mãezinhas destas, de lhes perguntar, qual o grau de deficiência do rapaz, coitadinho. Não tem bracinhos? Sofre de algum tipo de paralisia ou algo assim, que o impeça de fazer as coisas?


De outra, que, aos dois empregos que tem fora de casa, some-se um terceiro: o de cuidar do filho, homem já feito, levando-o nas mãozinhas, fazendo-lhe tudo. Anda exausta. Diz que gosta, faz cara feia às críticas. E eu nada digo. Mas causa-me espécie.


Diz-se que a vida é de cada um, que cada um é que sabe de si. Tudo muito bem e bonito, não fossem as repercussões irem muito além da sua vida, do seu espaço.




Para começar, a longa história da desigualdade entre géneros e os seus frutos não são um mistério para ninguém. Não há mulher no mundo que não a tenha sentido na pele, pelo menos uma vez.
Por isso, das mulheres, mães de filhos, o que eu espero é que promovam a Igualdade em casa, pois está nas mãos delas quebrar este ciclo, educando meninos que quando forem homens se saibam comportar fora das limitações impostas durante tanto tempo, da formatação dos estereótipos.


No entanto, há mães que pelo seu comportamento estão a promover a continuidade da desigualdade.


Um menino que seja ensinado a cozinhar, a passar a ferro, a arrumar, a lavar a louça, a participar de todas as tarefas domésticas não será menos homem por isso. Exactamente da mesma forma que uma mulher que saiba o suficiente de mecânica e bricolage para se desembaraçar sozinha, nunca será menos mulher.
Pelo contrário, serão seres humanos mais bem preparado para a vida, capazes e independentes. Que na minha cabeça, é algo que todo o pai e mãe desejam para os seus filhos.




Não ensinar a um filho essas capacidades básicas de sobrevivência só porque é do sexo masculino não é protegê-lo, é criar um imbecil, um incapaz.
É adiar a igualdade entre géneros, a concórdia, a harmonia, o entendimento, a evolução, por mais uma geração.
É habituá-lo à ideia que o papel das mulheres é serem criadas dos homens, servi-los, fazerem-lhes a papinha toda e lavar-lhes o cú com água de rosas, porque é o exemplo que mãezinha lhes deu. É alimentar-lhes a crença que um dia vão casar com uma mulher tal e qual a santa da mãezinha, que nunca na vida terão que mexer uma palha, que tudo em casa aparece feito como se de magia se tratasse.


Felizmente, nem todos os filhos destas mães caem no pior cenário. Alguns criam na vida de adulto uma realidade diferente, porque nunca gostaram nem se reviram no ambiente em que cresceram.


Outros, darão continuidade à misoginia. Nem que fosse só um, já era demais.




Minhas senhoras, aceitem a grande importância do vosso papel enquanto mães e educadoras, compreendam que as vossas escolhas têm grandes repercussões. Eduquem os vossos filhos no espírito da Igualdade, e certamente teremos um mundo diferente e mais evoluído no espaço de duas gerações.















quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Hooliganismo - tolerância zero!






Hooliganismo é uma expressão derivada do inglês "hooligan" que significa "vândalo". É usada geralmente para descrever um comportamento destrutivo e violento por parte de adeptos desportivos.


Por acaso, é até bastante adequado que se use uma palavra de origem inglesa para apelidar este problema, visto que o hooliganismo teve a sua origem naqueles lados e, ainda hoje, os adeptos ingleses mantêm a pior reputação à escala global, bem justificada diga-se.


Eu odeio hooliganismo. Este tipo de comportamento perverte e conspurca o desporto, qualquer que este seja.
Nem todos os adeptos são hooligans. E eu diria que os hooligans não são verdadeiros adeptos, embora gostem de se considerar os maiores fãs do seu clube.
Na minha opinião, são bestas, que encontram dentro do desporto, um espaço onde expressar o seu apetite pela violência, destruição e caos, destruindo o próprio desporto que dizem amar.


Um amigo contou que, na noite de ontem, após o jogo entre o Sporting e Schalke 04, equipa alemã de Gelsenkirchen, (que a equipa portuguesa ganhou, com um resultado 4-2), estava ele num estabelecimento do Bairro Alto, quando foi surpreendido por vários carros que circulavam em sentido contrário porque tentavam escapar de uma manada de adeptos alemães, que à sua passagem atiravam "pedras, garrafas, tudo...". O resultado foram estragos, muitos. Carros vandalizados, com vidros partidos, amolgados.
Se não aconteceu algo ainda pior, digo eu, é porque entretanto a polícia perseguiu-os à bastonada.




Para quem me considerar pessimista - afinal, que mal tem demonstrar um amor fervoroso pelo seu clube, não é?! - deixo-vos com um breve vídeo sobre o trágico dia de 29 de Maio de 1985, onde o jogo entre o Liverpool e a Juventus, no estádio Heysel na Bélgica, terminou, graças ao hooliganismo, em 600 feridos e 41 mortos.
(Atenção que este vídeo tem algumas cenas que podem ferir a susceptibilidade dos mais sensíveis, mas partilho-o porque acho tremendamente necessário dar a conhecer a verdadeira expressão do hooliganismo, para que finalmente se compreenda que isto não é uma questão menor.)













Acho que por aqui somos demasiado brandos a lidar com esta situação. Que, como todos os problemas, também a cura para o hooliganismo passa por atacar o problema na raíz, e não só focar nos sintomas.


Acredito que as sanções para este tipo de comportamento deveriam ser tão penosas e brutais que os fizesse realmente pensar duas vezes antes do acto. Deixá-los mesmo bambos das pernas só de pensar nas consequências, como decerto devem ficar os correios de droga quando se imaginam a passar por Singapura. Isto, sem a pena de morte, como é óbvio.


À turba de adeptos alemães que ontem à noite provocaram estragos em Lisboa, era prendê-los. Em troca da liberdade teriam que pagar a factura. Esta incluiria não só os estragos que causaram, como todas as despesas que resultaram das suas acções, inclusive processos judiciais, horas de trabalho das forças de segurança pública e todos os outros envolvidos, e todos os gastos que o Estado Português teve com a sua detenção, ao cêntimo, desde refeições, duches, electricidade, tudo.


Depois era escoltá-los, algemados, até embarcarem com destino à terra deles, ficando identificados como "personas non gratas" em território nacional, por um período de tempo, ou para sempre, conforme a gravidade das suas acções.




Para deter o hooliganismo é absolutamente necessária uma concertação entre Estado, Sociedade, clubes desportivos e restantes adeptos.


Acredito que só acções drásticas como um adepto culpado de hooliganismo ser considerado "persona non grata", repudiado pelo próprio clube; identificado numa base de dados, uma espécie de lista negra, e ver-se impedido de se associar a qualquer outro clube e de participar em qualquer evento desportivo, poderão contribuir para erradicar este problema.


Se o problema é o consumo excessivo de álcool e estupefacientes nos eventos, proíba-se o consumo deste nos recintos. Sejam impedidos de entrar aqueles que já lá chegam sob o efeito dos mesmos.




Os clubes participariam destas acções? Sem dúvida, mesmo que tivessem que ser coagidos.


- Hooligans como sócios? Ninguém joga até se resolver a situação.


- Venda de álcool no recinto? Multa pesada. Não há actividades neste enquanto esta não for paga, e a situação resolvida. Quanto mais demorarem, mais juros pagam. Não voltará a haver jogos acompanhados de cerveja fresquinha enquanto o hooliganismo não for erradicado.


- A equipa ganhou, e os adeptos festejam fervorosamente nas ruas, deixando uma onda de destruição e vandalismo? Vitória anulada. Assim talvez todos percebessem que ser hooligan não é sinónimo de amar o desporto e o seu clube, pois este tipo de comportamento significaria ser o responsável directo pela sua derrota.




Para concluir, o hooliganismo pesa no bolso de todos os contribuintes. Para cada jogo que ocorre, são tomadas medidas extraordinárias por parte das forças de segurança pública, e isso sai-nos do bolso. É dinheiro dos impostos que poderia ser direccionado para coisas de jeito, como saúde ou educação, ou tantas causas que bem precisam de um investimento, mas que por causa da bestialidade de alguns tem que ser utilizado para este fim.
Pois então, que sejam os clubes desportivos a pagar esta factura. Se se recusarem, não há jogos para ninguém.