quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Cromices: os bois pelos nomes





Sou licenciada.
Para mim, ingressar no Ensino Superior sempre foi um dos meus objectivos de vida desde que me lembro de ser gente.
Tive a imensa sorte de ser sempre apoiada pelos meus pais, assim como pelo meu marido, e isso nunca será por mim esquecido ou desvalorizado, viva eu 200 anos.


Não exerço. Tal não retira valor ao que concretizei: foi uma boa experiência, alarguei horizontes e conhecimentos. Sobretudo, aumentou a minha capacidade e sede de aprender. Para trás, porque todos envelhecemos, fica a capacidade de passar noites em branco.


Foi positivo. E sim, um motivo de orgulho pessoal e familiar, porque este grau académico exigiu trabalho e dedicação. Ajudou à minha evolução enquanto pessoa. Mereci-o. Ponto.


Quando muito, tem dias em que me questiono se não deveria ter seguido outra qualquer área, especialmente quando existem várias que me atraem. Se calhar muita razão tinha a Senhora minha Avó quando reduzia toda a teoria publicitária ao desabafo em que os anúncios eram coisas tremendamente chatas, que só serviam para cortar o enredo da telenovela.
Outros dias em que nem por isso.
Nunca é tarde. Haja vontade e, claro, sejamos transparentes, finanças e tempo para investir em Educação.




Vocifero contra quem, sem argumento de valor, se insurge, destrata e desvaloriza quem conquistou um grau académico. Essas críticas bota-abaixo parecem coisa de quem tem dor de corno.


Vocifero contra quem, por ter um grau académico, se comporta como o rei da cocada preta, por sua vez desvalorizando quem não o tem.


Vocifero ferozmente (!) contra quem exige ser tratado por um título que não conquistou nem mereceu.


Ganhei, acima de tudo pela minha conduta para com os outros, democraticamente cortês, o direito de o fazer.




Mesmo quando era recém-licenciada, em toda aquela euforia de fim de curso, nunca, fora de brincadeiras com colegas, pensei ou admiti que me tratassem por Dra.
Isto tirando cerca de meia dúzia de vezes, em contexto profissional, em que fui vencida pelo cansaço, após tentar explicar aos meus interlocutores sem sucesso, vez após vez, que o meu grau é o de Licenciada.
Que se lhes fizesse menos confusão que me tratassem pelo meu nome próprio. Que não é vergonha nenhuma! Já Dale Canergie afirmava que o nome de alguém é para essa pessoa o som mais doce do mundo.
No nosso país é que desenvolvemos tremendos preconceitos porque há demasiada gente que gosta de se armar aos cágados!
Que Doutor é somente quem tem um Doutoramento, assim como Mestre é quem tem um Mestrado, que Engenheiro se reserva a quem está inscrito na Ordem dos Engenheiros, e por aí fora.




Sempre gostei de pôr os pontos nos "ii" nesta questão.


Um dia, há já uns bons anos, numa entrevista de emprego, o meu potencial (e futuro) empregador estende-me a mão em forma de cumprimento formal, e apresenta-se como "Dr.".
Eu pergunto-lhe, tão jovialmente quanto possível, se fez o doutoramento em Portugal.
A cara do meu interlocutor demonstra uma expressão fechada, paira ali alguma confusão. Responde-me num tom mais baixo que não fez nenhum doutoramento. Mas tem um MBA.


Peço-lhe desculpa pela minha confusão. - "Sabe, é que apresentou-se como doutor, e eu presumi que tinha um doutoramento. Assim sendo, como prefere que o trate, por senhor, licenciado, ou pelo nome próprio?"









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