sábado, 19 de abril de 2014

A anarquista e os Audis



Quando me questionam sobre a minha cor política, a maior parte das vezes fico-me pela concisa resposta de que a minha posição é apartidária.


Que não existe partido algum no qual me reveja o suficiente para abdicar de uma posição de profunda liberdade ideológica e intelectual.
Que posso simpatizar com um ou outro ponto de vista, empatizar com alguma posição, entender de onde nasceu determinada perspectiva, mas como levo os compromissos a sério, não surgiu ainda bandeira ou pessoa na esfera política, que me convença a caminhar até ao altar.


É preciso uma dose generosa de paciência, (que não estou para desperdiçar em todas as pessoas), para explicar que estão diante de uma espécie de anarquista utópica, à falta de melhor rótulo.


Porque, em primeiro lugar, há sempre que ensinar o que é isto do anarquismo, quanto mais utópico.


 Simplesmente ser um anarquista utópico é almejar uma sociedade onde todos os seus membros são totalmente livres e responsáveis, logo não há necessidade nem lugar para quaisquer organismos de soberania, nem de poder ou de natureza análoga.

A existência desta sociedade ideal pressupõe que cada ser humano seja tão evoluído e luminoso, que o seu comportamento esteja em todas as alturas imbuído dos mais elevados princípios universais como o Amor, o Respeito, a Empatia, a Compaixão (...), e como todos agem correctamente de sua livre e espontânea vontade, não há lugar nem necessidade para leis, e polícias, exércitos, prisões e afins.

Fiz as pazes com isto da utopia: estas não se concretizam. Não no meu tempo. Não somos evoluídos o suficiente para tal. Arriscar é o mesmo que transformar ouro em merda com o poder do toque, é acrescentar mais um capítulo negro à história da humanidade.
Mas não deixam de ser indispensáveis. Não houvessem utopias, e não existiria aquela luz ao fundo do túnel que nos força a avançar. Não há pioneiro maior que a imaginação.


Não sei se alguma vez, enquanto espécie dotada de consciência, estaremos preparados para a visão que estabeleci como horizonte.


Não saber é admitir uma esperança, ainda que mínima, um talvez.


Se há momentos em que acredito mais num "não" redondo e absoluto? Muitos!

Um deles é toda esta cena do fisco e do sorteio dos Audis. É bizarro.
Mas o pormenor que para mim mata a esperança na evolução humana, e me faz pensar que somos desmerecedores das utopias, é que não há maneira de educar a grande maioria das pessoas para o facto de que fugir ao fisco é errado, que os custos da vida em sociedade devem ser repartidos solidariamente para que uns não sejam lesados pela atitude egoísta de outros.


É triste ver que a promessa de um carro novo move mais gente do que a ética e a moral.







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