quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O meu conceito de família





Há pessoas para quem os laços de sangue são tudo. Para mim, sangue simples e unicamente pelo sangue é desprovido de valor.

A Família é basilar para mim. Mas, a minha família é aquela que fui construíndo ao longo da vida.
É composta tanto por pessoas que partilham comigo uma herança genética, como por quem foi chegando e ficando por afinidade.
O ponto em comum entre todos é que conquistaram o seu lugar.


Dito assim, até parece que sou alguém de trato particularmente difícil, e não creio que seja verdade. Peculiar, certamente. Difícil, nem tanto assim.


A minha Família é feita de pessoas que me honram pela sua presença, por se quererem na minha vida e me quererem na delas.


Sobretudo são pessoas que me cativaram.
Cativam-me as pessoas que sabem ser afáveis, gentis, carinhosas, generosas, empáticas, verdadeiras, que se querem dar de livre vontade, e não por se tratar de uma obrigação diplomática ou familiar, ou por acharem que vão ganhar algo com isso.


Nas relações não devem existir obrigações, fretes ou hipocrisias.




Não é difícil. Basta cativarem-me uma única vez, e mesmo que fiquemos 20 anos sem nos ver, saberão que a única distância que mata relações é a emocional. Porque para quem soube cativar, mesmo que uma única vez, terão sempre disponíveis um abraço e um sorriso que nunca se extingue.


Tenho sorte. Tenho família de sangue que se soube elevar ao papel de amigo. Tenho amigos que me são família. Marcaram-me pelo que são e pela forma como agem.


No meu conceito de família, embora o meu coração albergue muita gente, as pessoas estão divididas em vários níveis, um pouco como no Inferno de Dante.

O anel exterior é o mais populoso. Nele cabem praticamente todas as pessoas que conheço, com quem não existiu propriamente uma ligação emocional, inclusive alguns familiares que não considero da Família, tipo aqueles que vi para aí uma vez na vida, e que se os vir na rua nem reconheço.
Se têm direito a um lugar, é porque mesmo assim lhes desejo tudo de bom, embora não sinta vontade de aprofundar a relação.


No centro de tudo, cabem muito poucos. Menos de uma mão cheia: os meus pais, o meu marido, e a minha irmã de coração.




Acho que aprendi a ser assim, também por uma questão de geografia. Tirando um par de membros da família, todos os outros se encontravam a centenas de quilómetros de distância.
Ao longo dos anos os papéis tradicionais familiares foram sendo cumpridos por quem estava mais próximo.
Por exemplo, a querida e saudosa Gertrudes, a minha ama de infância, por não me tratar de forma diferente dos seus netos, tornou-se a minha terceira avó. O que não retira nenhum mérito às minhas avós, mas diz certamente muito, (e bem), sobre a pessoa que foi a minha ama.
Tantos amigos que ocuparam o lugar de irmãos mais velhos, de primos. Alguns pais destes que foram uns tios bestiais.




Não desgosto do meu conceito. Tem-me servido bem durante a vida. A sua grande vantagem reside numa espécie de meritocracia, porque não há lugar para quem não nos faz bem, haja ou não laço de sangue.

















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