quarta-feira, 5 de agosto de 2015

cromices #83: Não há como fugir à genética



Quando vivia com os meus pais, não havia amiga, amigo ou colega que entrasse lá em casa que não fosse bombardeado com ofertas de comida e bebida:

- Não tenha vergonha! Faça de conta que está em sua casa! - gracejava o meu pai, enquanto insistia pela vigésima vez que a pessoa comesse qualquer coisinha - Tem a certeza que não quer nada?!

E a pessoa, normalmente encolhida e algo ruborizada, largava pela vigésima terceira vez algo como: "Estou bem, sr. A., não quero nada. Obrigada, a sério que não quero nada."

E eu revirava os olhos:

- Oh pai, Fulana já disse que não quer nada. Não insistas mais que já estás a ser chato!


Mas o karma é tramado. Mais tarde ou mais cedo acabamos por pagar por todas as vezes que cuspimos para o ar.

Numa das últimas vezes que tivemos por cá companhia para o jantar, exagerei tanto na comida que andei a almoçar sobras durante quase uma semana.

E lá estava eu, durante a refeição, a ser filha do meu pai, sua cópia fiel, chata como tudo a insistir que Fulanos e Sicranas comessem mais, que não tivessem vergonha, que fizessem de conta que estavam em sua casa.

E ri-me sozinha. Ninguém percebeu, mas não faz mal. Eram cá coisas entre mim e a minha genética.






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