sexta-feira, 18 de novembro de 2016

cromices #140: Refém da C.P.



Longe vão os dias em que me deslocava de comboio diariamente. Agora é uma ocasião pontual.

Há um par de dias tive de fazê-lo.
Como não gosto de perder tempo, nem de fazer perder tempo a quem vai com mais ou igual pressa, opto por adquirir o cartão já carregado com viagem de ida e volta na bilheteira, ao invés de andar a engonhar na máquina de venda.

Ainda bem que tenho o hábito de sair de casa com alguma antecedência, para o caso de haver algum imprevisto, porque não houve estação em que as maquinetas não decidissem embirrar comigo.

Logo na ida, para conseguir aceder à plataforma, o senhor leitor de cartões obrigou-me a uma dança, que consistia em agitar o cartão da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, ora mais encostado ou afastado do sensor, ao som das indicações de uma amável senhora - "experimente assim, ora agora experimente assado", até se dignar a abrir a portinhola envidraçada.

No regresso, já na plataforma, a aventura consistia numa caça ao tesouro, ou melhor dizendo, a percorrer a dita de uma ponta à outra na demanda de um leitor que funcionasse, de preferência antes de ver mais um comboio a passar por mim.

Mas, a cereja no topo do bolo foi o fim da viagem, aquele momento em que se quer sair da estação e a maquineta diabólica decide que não, que me quer refém. Um senhor simpático, já do outro lado, livre da mecânica armadilha, questiona-me sobre o que diz a maquineta. Esta reclama "saldo insuficiente".
"A malandra aprisiona-me e agora pede-me resgate!" - pensei eu. "Agora é assim, Comboios de Portugal?! Apanha-se o utente num momento vulnerável, onde não há escapatória, e para além do preço da viagem ainda quer que se pague para sair da estação?!"

Salvou-me um simpático jovem que perguntou se queria sair com ele. E lá fomos os dois em passo de corrida no momento em que as portinholas se abriram.


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