terça-feira, 21 de novembro de 2017

Coisas de pensar: Existe alguma fórmula para um salário justo?


A justiça salarial é uma causa que vale a pena, por todo um mundo de motivos.
A necessidade de reflectir e agir sobre este subsistirá enquanto o salário mais baixo praticado no nosso país tiver um valor que não permite ao assalariado uma vida independente e digna.
O que se quer, para começar, é que quem aufere o salário mínimo tenha a capacidade de se sustentar plenamente através do fruto do seu trabalho, sem a necessidade de receber ajuda de terceiros, seja a cara metade, família ou Estado.
Sem desigualdades salariais motivadas por diferença de género ou quaisquer outras que não fazem sentido, já agora. Diminuir o fosso entre os salários mínimo e máximo praticados também seria de valor.

No entanto, a justiça salarial não se conquista pagando o mesmo valor a todas as pessoas, mas usando uma fórmula composta por vários factores, aplicando-a caso a caso, para encontrar o valor mais adequado a cada um.

- O primeiro factor é demasiado óbvio, mas mesmo assim deve ser referido: o horário. Quem trabalha 40 horas há-de receber mais do que alguém que trabalha 20.

- O segundo factor é a experiência, o tempo já investido no desempenho daquela função. Há palpáveis e importantes diferenças entre quem só agora começou num qualquer emprego e alguém com anos de experiência no mesmo posto, e isso tem que ser expresso numericamente.

- O terceiro factor recai sobre a diferença entre horário diurno e nocturno. A ciência defende que trabalhar durante a noite causa o caos no metabolismo, e caso seja uma situação prolongada, pode derivar em problemas de saúde, como aumento da probabilidade em se sofrer de diabetes tipo 2, obesidade e ataques cardíacos. Nada mais justo que compensar adequadamente quem labora à noite.

- O quarto factor tem a ver com risco e desgaste. A forma mais simples e sucinta de explicar este ponto é através de exemplos. Um locutor de rádio não corre profissionalmente os mesmos riscos que um bombeiro, um polícia, um repórter de guerra, um profissional de saúde que lide com doenças infecto-contagiosas, etc.
Da mesma forma, um nutricionista não terá um profissão considerada de desgaste, por não implicar uma exposição a um grande nível de stress, como acontecerá a um militar em cenário de acção ou um corretor de bolsa;  não está sujeito às condições ambientais de um mineiro ou pescador; não tem que esforçar a vista como uma bordadeira; não tem que forçosamente passar o dia em pé, ou sentado, ou numa constante repetição de gestos e manipulação de pesos que acabam por dar origem a problemas de saúde como acontece com uma imensa massa de profissionais desde operários fabris, funcionários de comércio, escritórios, hotelaria, restauração, desportistas, bailarinos, entre outros.

Cabe também nesta alínea o sentido de responsabilidade acrescido inerente a várias profissões, devido à exigência destas, e aos riscos podem existir para o profissional e terceiros caso este não esteja capaz de uma boa performance. Para clarificar, os cirurgiões são um exemplo, assim como os pilotos de aviação, motoristas de transporte de pessoas, etc.


- O quinto ponto relaciona-se com a preparação do indivíduo para exercer determinada função, com o conhecimento que teve que adquirir, com quanto da sua vida e da sua energia investiu para tal.
Bastará dizer que um barista, mesmo que prepare o melhor café do mundo, saiba tudo e mais um par de botas sobre o tema e seja a pessoa mais simpática no atendimento ao cliente, nunca poderá auferir tanto quanto um neurocirurgião, simplesmente porque este estudou 12/14 anos para alcançar o estatuto de médico especialista, e continua a ter a necessidade de se manter ao corrente.

- O sexto e último ponto tem que a ver com mérito, com recompensar o indivíduo que destaca pela excelência, o brio, a qualidade, a paixão, aquele que consegue fazer muito bem dentro do seu horário. Incentivar às boas práticas, motivar a existência de bons desempenhos e boas qualidades humanas, motivar, não deixar passar despercebido o que é bem feito.
As empresas não se podem ficar pelos habituais discursos em que exigem melhorias, aumentos de produtividade, mais empenho e melhores resultados. É obrigatório, por 1000 motivos, dar um feedback positivo a quem o merece.


Acredito que esta meia dúzia de pontos quando combinados perfazem de forma pertinente a tal fórmula para esmiuçar um salário justo.



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